sexta-feira, 5 de julho de 2013

Jacqueline Resch: Separação sem despedida

Jacqueline Resch: Separação sem despedida

O mercado está ávido por gente com iniciativa, capaz de atuar com autonomia e contribuir para o negócio

O DIA
Rio - No mundo do trabalho, acabou o amor. E agora? Para quem é deste século, é difícil acreditar que os tempos modernos de Chaplin eram pura realidade e não cenas de ficção. Passaram-se 30 anos e, assim como o cotidiano, o mundo das estruturas organizacionais teve que se mexer. E lá fomos nós... Baby boomers, atropelados pela globalização e pela tecnologia, lutando para se adaptar, nem sempre com sucesso.
No tempo deles, o mundo bom era o mundo seguro, com emprego para toda uma vida e fronteiras claras entre o trabalho e a vida pessoal. Para seus filhos, o trabalho vale a pena se casado com propósito e é certo que mudam de emprego quando o entusiasmo arrefece, as oportunidades de desenvolvimento esgotam ou a admiração pelos chefes se esvai. A lealdade foi trocada pela empregabilidade. Nada de mau!
Excesso de hierarquia está fora de moda e os profissionais, antes valorizados por obediência e submissão, hoje têm pouco lugar no mercado, ávido por gente com iniciativa, capaz de atuar com autonomia e contribuir para o negócio. São talentos raros, difíceis de encontrar, e, para mantê-los, as empresas devem cuidar. Ainda assim, por mais que cuidem de seus colaboradores, a vida dinâmica faz com que mudem de lugar. Quando aqueles em quem acreditamos e investimos se vão, é dureza. Mas, assim como nos casamentos, quando os interesses já não convergem, é hora de romper. Convém deixar o outro absorver a decisão e não sair simplesmente batendo a porta. Rituais de despedida são importantes para todos partirem o mais inteiros possível.
Assim também é na vida profissional. Sair bem de uma empresa tem um enorme valor. Ninguém deveria ser desligado subitamente, sem conversas prévias sobre desempenho, comportamento e sem apoio no momento da transição. Nenhum profissional deveria romper sem dar tempo ao empregador, para organizar o trabalho, buscando um substituto. Como o melhor dos mundos nem sempre acontece, acordos são essenciais para proteger interesses de ambos os lados.
A cada dia escuto histórias de profissionais que pedem demissão alegando que precisam deixar seus empregos HOJE. Estranho... Que empregador é este que, colocando a faca no pescoço do profissional, estimula que ele despreze princípios mínimos de ética? Que profissional é este, incapaz de negociar prazos que permitam ao seu atual empregador se organizar? Estar atento aos seus interesses é inconciliável com respeitar as necessidades do outro, que até ontem era seu parceiro, ou, ainda que seja, seu ganha pão?
Jacqueline Resch é sócia-diretora da Resch Recursos Humanos


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