terça-feira, 10 de setembro de 2013

Acidentes com ônibus BRT expõem falhas de segurança

Acidentes com ônibus BRT expõem falhas de segurança

Ligeirão foi atingido por coletivo que, segundo testemunhas, havia avançado o sinal; em outro acidente, veículo articulado se chocou contra carro particular

PALOMA SAVEDRA E CONSTANÇA REZENDE
Rio - Há mais de um ano reduzindo o tempo de viagem da Zona Oeste — ligando a Barra da Tijuca a Santa Cruz —, o BRT Transoeste registra acidentes em velocidade semelhante à que operam os ônibus do sistema. Nesta segunda-feira, duas colisões envolvendo os ligeirões — como são conhecidos —, um carro de passeio e um coletivo convencional, em cruzamentos, deixaram 32 pessoas feridas. O acidente aconteceu um mês após outra batida que deixou 30 feridos no BRT.
Também colocaram em xeque a segurança na via expressa, principalmente em pontos de interseções. Apesar de sinalizados, os trechos são perigosos, segundo especialistas em trânsito. Alguns sugeriram mudança na sinalização.
Vinte e seis pessoas ficaram feridas e foram levadas para o Hospital Municipal Lourenço Jorge. Segundo passageiros, o motorista do coletivo convencional foi jogado fora do veículo. Está internado.
Ônibus do BRT colidiu com outro coletivo no Recreio e deixou vários feridos
Foto:  Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Jaqueline Marques, 27 anos, contou que estava bem na frente do BRT e viu quando o outro ônibus avançou e bateu na lateral. “Só deu tempo do nosso motorista desviar de um poste. Quando vi, minha amiga estava jogada no chão com muita dor nas costas. Se fosse de frente teria sido muito pior”, disse .
O controlador de tráfego Rodrigo Ferreira, 28, foi ao hospital buscar informações sobre a mulher, Gisele Almeida, 31, e a sogra, Wanda Faria. As duas usam diariamente o BRT e se acidentaram com a colisão. “Trabalho com isso. Vejo muitos motoristas que acham que são pilotos de Fórmula 1 e não respeitam nada”.
De acordo com o consórcio BRT, o segundo acidente foi uma colisão entre um carro particular e um ônibus articulado, às 6h44, próximo à Estação Pontões. Seis pessoas ficaram feridas e também foram para o Lourenço Jorge. Testemunhas disseram que a motorista do carro teria feito uma conversão irregular.
Secretaria e consórcio não se entendem
De acordo com testemunhas, os acidentes desta segunda não foram provocados por motoristas do BRT, mas por desobediência às regras de trânsito. O primeiro foi às 5h25 na pista central da Avenida das Américas, perto da Estação Interlagos, sentido Barra. Um ônibus da linha 758 (Recreio-Cascadura), que teria avançado o sinal no cruzamento, bateu no ligeirão (Santa Cruz - Alvorada).
Gerente do consórcio BRT, Alexandre Castro afirmou que liberou imagens das câmeras à 16ª DP (Barra), que investiga os acidentes. Ele disse ainda que estudo com sugestões sobre o que pode ser feito ao longo da via, para melhorar a segurança, foi entregue à Secretaria Municipal de Transportes.
Mas, segundo a Secretaria, a única sugestão recebida da empresa foi a de mudança de pontos de ônibus, que está sendo avaliada. Já a Polícia Civil informou que foi realizada perícia no local e que testemunhas estão sendo ouvidas.
Especialistas sugerem mudanças
O especialista em Engenharia de Transporte Fernando Mac Dowel considera uma “anormalidade” os acidentes recorrentes no sistema BRT. Para o engenheiro, a solução seriam passagens subterrâneas nos cruzamentos.
Segundo ele, não adianta criticar a má conduta no trânsito, pois a repetição dos acidentes indica falha. “Ao longo do BRT, há muitas interseções, e os acidentes são sempre nesses pontos. Passagens subterrâneas demorariam 90 dias para ficar prontas e resolveriam o problema”, disse ele.
Motorista do ligeirão teria sido arremessado para fora do veículo
Leitor @danielmaldonad0
Já o conselheiro do Conselho Regional de Engenharia (Crea-RJ) Antonio Eulalio Araujo disse que a instituição recomendou à prefeitura a instalação de cancelas e câmeras nos cruzamentos do BRT para evitar o avanço de sinais. Segundo ele, a medida de segurança é necessária, pois veículos usados no BRT se movimentam em velocidade mais alta e são mais pesados do que ônibus convencionais.
Mas, segundo estudo de uma equipe técnica da CET-Rio, “a instalação deste mobiliário foi considerada inadequada para uma interseção em via urbana deste tipo”.
ÚNICA LINHA QUE LIGA SEPETIBA AO CENTRO CUSTA R$ 9
Moradores da Zona Oeste, principalmente de Sepetiba e da Reta da Base, em Santa Cruz, queixaram-se das poucas opções para ir ao Centro. De acordo com o técnico administrativo Anderson Farias, não há como ir de Sepetiba ao Centro por menos de R$ 9. “Não há nenhum ônibus que faça o trajeto por R$ 2,75. A única linha no percurso Sepetiba-Carioca, a 2304, só sai em dois horários 4h30 e 15h30 e custa R$ 9”, reclama ele, que é presidente do Centro Comunitário de Sepetiba.
Já o tesoureiro da Associação de Moradores de Sepetiba afirma que, devido à falta de opções para ir ao Centro, moradores que não podem pagar R$ 9 fazem baldeações e levam mais tempo. “Nós sofremos muito e vamos fazer abaixona-assinado relatando o problema, para entregar na prefeitura”, afirmou.
Ele e outros moradores da região levaram o problema ao deputado Gilberto Palmares (PT), que acionou a Secretaria Municipal de Transportes. Na semana passada, ele e o secretário Carlos Roberto Osório fiscalizaram a linha para apurar a denúncia.
Segundo Palmares, o secretário prometeu que iria estudar alternativas e se comprometeu a fazer uma reunião com os moradores. “O transporte na Zona Oeste é precário em todos os sentidos. Além das empresas não respeitarem horários, colocam em circulação coletivos sem nenhuma condição. Isso precisa ser revisto urgentemente”, disse.
O deputado petista queixou-se também da linha 388 (Santa Cruz- Centro), que tem apenas dois pontos de saída.
Acidentes são frequentes
Colisões e atropelamentos são recorrentes ao longo do corredor do BRT Transoeste. Desde sua inauguração, há um ano, sete pessoas morreram no local. A maioria dos acidentes é provocada pelo desrespeito à sinalização, por parte de pedestres e motoristas de linhas convencionais ou carros de passeio.
Segundo o Corpo de Bombeiros, de janeiro a agosto deste ano, a Avenida das Américas foi a quarta via com maior número de atropelamentos. Neste período, foram registrados nela 146 casos, boa parte no trecho compreendido pelo BRT.
Segundo a corporação, nos mesmos meses, houve 146 colisões. Nesse caso, a via registra o segundo pior índice. A Secretaria Municipal de Transportes informou que no eixo da Transoeste (Alvorada–Túnel Vice Presidente José de Alencar) há sinalização informando sobre a existência de 91 radares. De janeiro a agosto, foram instaladas ainda 400 placas de orientação aos motoristas.
    Tags: BRT , Acidentes

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