Artigo: Samba-enredo voltou ao protagonismo com vitória da Vila
POR BRUNO FILIPPO
Sem ele, seria um desfile muito bonito – mas sem aquele “algo a mais” que delimita a fronteira entre um desfile histórico e um desfile comum. Há alguns anos, escrevi neste espaço que a decadência do samba-enredo insere-o na teoria da morte da canção. À luz do terceiro título da escola de Noel, gostaria de retomar este assunto, para iluminar ainda mais este momento do Carnaval.
Enredo da Vila exaltou homem do campo | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Segundo o crítico José Miguel Wisnik, a canção que morreu é aquela “sofisticada melódica e harmonicamente, com letras densas e polissêmicas, intimamente entranhadas com a música, sílaba por sílaba, capaz de atingir e interessar grandes públicos, atravessar diferenças sociais, irradiando lirismo e crítica social”. Assim, o rap e a música eletrônica emergem como os gêneros mais afeitos a uma época em que a canção é coisa do passado.
Vila conquistou terceiro título de sua história | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Adaptando a teoria ao samba-enredo, explica-se o quadro atual. A singularidade do samba da Vila Isabel deste ano é tanto pela beleza da obra, pela qualidade da letra, da melodia, mas também por ser funcional, palavra da moda para resumir a adequação aos tempos modernos, ou seja, a capacidade de proporcionar à escola um bom desfile. Por unir estética e funcionalidade, o samba-enredo da Vila Isabel oxigenou o carnaval do Rio – e o cérebro de quem acha que o samba é um dos principais componentes da linguagem das escolas de samba.
Abre-alas da Vila impressionou pelo visual colorido | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
* Bruno Filippo é jornalista e sociólogo
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