domingo, 14 de julho de 2013

Frei Betto: Protesto! Que proponho?

Frei Betto: Protesto! Que proponho?

Há um denominador comum em todos esses movimentos: os jovens sabem o que não querem, mas não têm clareza do que propor

O DIA
Em todo o mundo, uma insatisfação paira no coração dos jovens. Ela não se reflete apenas na irreverência do corte de cabelo, no jeans esfarrapado, nas tatuagens. Emerge principalmente nas manifestações de rua que se propagam mundo afora: Seattle 1999 (contra a Organização Mundial do Comércio); Davos 2000 (contra os donos do dinheiro); Inglaterra 2010 (contra os cortes no orçamento da Educação); Tunísia 2010-2011 (derrubada do presidente); Egito 2011 (derrubada do presidente); Nova York 2011 (Occupy Wall Street); Istambul 2013 (por mais democracia); Brasil 2013.

Há um denominador comum em todos esses movimentos: os jovens sabem o que não querem (ditadura, neoliberalismo, desemprego, corte de direitos sociais, alta do custo de vida), mas não têm clareza do que propor.

Devido ao alto índice de corrupção nos partidos e à cooptação operada pelo poder do capital, a juventude não identifica nas legendas condutos capazes de representar os anseios populares e criar alternativas de poder.

O capitalismo em crise tenta multiplicar os sete fôlegos do gato neoliberal. Ignora as recomendações da ONU para a crise financeira (como fechar os paraísos fiscais) e se recusa a regulamentar o capital especulativo.

Foi preciso o Brasil ir às ruas para a presidenta Dilma propor a Reforma Política, a primeira medida estrutural em 10 anos de governo petista. Agora faltam as demais: agrária, tributária, etc.
Não basta denunciar as mazelas e os abusos do sistema. É preciso apontar causas e alternativas. Caso contrário, a insatisfação dos jovens se transformará em revolta, e esta em ninho aconchegante para o ovo da serpente: o nazifascismo.


Frei Betto é escritor, autor de ‘O que a vida me ensinou’ (Saraiva)


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