Rio -  Mistanásia. Poucos conhecem de imediato o significado desta palavra, que traduz a dor e o sofrimento impostos à sociedade pela desassistência. São homens, mulheres e crianças que nem têm a chance de se tornar pacientes. Morrem antes, pois não conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento. Ou pior, mesmo acolhidos num hospital ou pronto-socorro, não recebem o diagnóstico e o tratamento que esperam.
Entendo que o governo, em diferentes esferas, até tem procurado fazer algo para evitar situações deste tipo. Contudo, é inegável que falta mais, especialmente por conta de pecados cometidos pelos gestores do SUS.
É preciso encarar o problema de frente. Os gestores devem entender que a condução de um sistema baseado nas diretrizes da universalidade, integralidade e equidade no acesso necessita de uma visão estruturante. O brasileiro espera por soluções permanentes, de longo prazo. Não queremos atalhos e improvisos, mas um caminho bem sinalizado, que nos afaste da sedução do mais fácil.
Apesar de alegarem preocupação com ‘a falta de médicos’, o país não ouviu ainda os gestores anunciarem mais recursos para a saúde nem mudanças no modelo de gestão. Eles muito menos apresentaram medidas que qualifiquem a estrutura de atendimento nos municípios mais pobres e distantes e estimulem a fixação de profissionais da saúde nestas localidades.
Enfim, a responsabilidade é bem maior, e os médicos não arcarão com o ônus dessa fatura que, no nosso entender, nada mais é que a expressão da mistanásia social no Brasil. Em defesa da vida, os médicos não permitirão a manutenção desse pacto nem a impunidade de seus signatários.
Roberto Luiz d’Avila é presidente do Conselho Federal de Medicina