Rio -  Passaram três anos e Carminha retornou ao lixão. Vagando sobre os montes de restos, no último capítulo de ‘Avenida Brasil’, ela catava sozinha com uma vara, espetando o chão e falando coisas consigo mesma. Apocalíptico. Foi quando exclamei sozinho: “Gente, Carminha é Estamira anos antes. Explicando: se os anos continuassem pulando, tipo 20 anos mais tarde, seria plausível aquela Carminha se transformar na velha Estamira, cujo documentário tanto sucesso fez há quase dez anos atrás.
A Bruxa do lixão retratada brilhantemente pelo diretor Marcos Prado no cinema, afirma: “Eu sou ruim, mas não sou perversa!” E como o capítulo que parou o Brasil era sobre a redenção e o perdão, nada mais justo que achar que a Carminha era ruim, mas se impôs um limite que foi não matar Tufão e Nina. E isto defronte de seu pai-algoz, que ela odiava. Carminha foi o ápice da estética mendigo, iniciada por Estamira, celebrada em arte por Vik Muniz e seu ‘Lixo Extraordinário’, e questionada por Eduardo Paes ao fechar o aterro Sanitário de Gramacho às vésperas da Rio+20.
O povo do lixão veio num crescendo de visibilidade até que virou novela das 8. E a Deusa Adriana Esteves, que brilhava na mansão do Divino, nos brindou com uma pérola em seus últimos cinco segundos: foi quando Carminha virou de costas para o filho, neto e nora e Lucinda, ficou de frente para a câmera e chorou como a garotinha explorada pela vida. Todos os prêmios de melhor atriz em 2012 já tem dona, e o autor esta de parabéns.
Fora isto quero contar para vocês do programa ‘Andar com fé’, quando Cissa Guimarães entrevistou a bela e hilária Alexandra Richter: que coisa maravilhosa e edificante. O programa é sobre como as diferentes fés levam a construção do bem e da superação. Adoro. Só que o da loura atriz foi especial porque a fé dela é fé na vida sem uma religião em especial.
Ela contou que desde criança sempre soube que iria lutar muito, que o sucesso só viria nos anos de maturidade e não na juventude, mas a melhor parte foi sobre seu casamento e filha: sem poder engravidar, decidiu prontamente adotar, ligou para os parentes avisando que estava grávida na alma, rezou oito meses pedindo para que nenhum mal acontecesse com a criança que em algum lugar do Brasil já era sua filha e já estava viva e, ao encontrar a criança em Brasília, se arrepiou inteira como que num parto, e naquele momento seu seio começou a jorrar leite!
Uma confissão tão emocionante quanto educativa: o corpo humano apresenta potencialidade que a ciência não consegue explicar. Todos nós que assistíamos fomos varados pelo amor imensurável de uma mulher que é prova de que a maternidade é um dom do coração muito além da barriga.