Conheça Deyverson, o brasileiro que quer atrapalhar (de novo) a vida do Barça
Sem fama no Brasil, atacante é uma das armas do pequeno Alavés na final da Copa do Rei. Enorme admiração por Neymar, que estará do outro lado, já lhe rendeu até bronca
Após fracassar na Liga dos Campeões e no Campeonato Espanhol, o Barcelona tem a chance de encerrar a temporada neste sábado com alguma dignidade. Na despedida do técnico Luis Enrique, o time vai enfrentar o modesto e surpreendente Alavés na final da Copa do Rei - às 16h30 (de Brasília), no Vicente Calderón, em Madri, com acompanhamento em Tempo Real do GloboEsporte.com. Para os catalães a vitória é tratada como obrigação e, se ela de fato vier, a comemoração provavelmente será mais contida do que o normal. Do outro lado, porém, está uma equipe sedenta pela conquista daquele que será o título mais importante da história do clube. E que já aprontou uma surpresa e tanto quando venceu por 2 a 1 dentro do Camp Nou, pelas rodadas iniciais do Espanhol. Três pontinhos que por sinal fizeram falta ao Barça na reta final do torneio, sagrando o Real Madrid como campeão.
- As pessoas falam que o Barcelona tem 99% de chances de ser campeão e nós temos 1%. Mas pego as palavras do meu pai: se 1% é difícil, para nós 1% é possível. É possível ganhar do Barcelona, sim. Já demonstramos isso para todo mundo quando ganhamos deles no Camp Nou. Mas para jogar uma final contra o Barcelona... Se jogamos a 100 por hora, agora tem que ser a 1.000 por hora.
As palavras acima são de Deyverson. Para quem ainda não o conhece, trata-se de um atacante brasileiro que é peça importante do Alavés e que inclusive fez um dos gols da vitória no Camp Nou. Esse jogo acabou sendo um divisor de águas na carreira do jogador, que ganhou mais visibilidade a partir dali. Depois, balançou também a rede de outro gigante, o Real Madrid. Por tudo isso, ele próprio acredita que vive seu melhor momento, aos 25 anos. Ao todo, foram 36 partidas na temporada - 31 como titular - e sete gols marcados.
De brasileiro no elenco, só Deyverson mesmo. Mas há também um nome familiar: Romero. Neste caso, Óscar Romero, irmão gêmeo do paraguaio Ángel Romero, do Corinthians.
A reportagem viajou até a cidade de Vitoria-Gasteiz, localizada na comunidade autônoma do País Basco, no norte da Espanha, para conhecer Deyverson de perto. Ele não tem fama no Brasil, pois profissionalmente só atuou por um clube: o Grêmio Mangaratibense, da Série C do Campeonato Carioca. Há cinco anos, foi levado pelo antigo empresário à Europa. Passou em teste no Benfica B, e na sequência jogou no Belenenses, também de Portugal, e no Colônia, da Alemanha, até ter o passe comprado pelo Levante, da Espanha. O time foi rebaixado no ano passado e o emprestou ao Alavés até o final desta temporada. Deyverson diz que não sabe como anda a situação e que o empresário está conversando para resolvê-la, mas deixa clara qual é a sua vontade.
- Se eu tiver que sair daqui, vou sofrer bastante. Estou bastante acostumado à rotina de descer do apartamento com meu pai para tomar um café, falar com as pessoas, receber o carinho delas. No Brasil você perde um jogo e não é a mesma coisa. Aqui as pessoas sabem onde moro, me tratam com carinho e respeito. Pelo meu coração, eu ficaria aqui por mais um ano, dois, três...
Deyverson é muito querido pela torcida do Alavés. As mostras do incentivo que recebe do povo local estão espalhadas por sua casa. São vários presentes: bonecos, cartas, fotos, bichos de pelúcia. E é fácil entender o porquê. O sorriso aberto e a simpatia são suas marcas registradas.
Passado de "pão sem manteiga e café sem açúcar"
O atacante hoje tem uma vida confortável, mas lá atrás as coisas eram bem diferentes. Ele deu os primeiros passos no futebol no time de bairro criado pelo pai, Carlos Roberto, o Aesc Mamaô de Campo Grande, no Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criado. Após levar muitos nãos em testes, recebeu o convite do Grêmio Mangaratibense. Nessa época, a situação era complicada.
- Foi onde passei mais dificuldade. Às vezes não tinha o que comer, a gente comia pão sem manteiga, tomava café sem açúcar. Enfrentamos e vimos que éramos capazes de encarar outras dificuldades no futebol. Ali eu pude aprender que na vida nada é fácil. Se a gente não batalhar, não vai vencer. Por isso muito jogador desiste do futebol. Mas não desisti e graças a Deus estou aqui.
Deyverson é de família boleira. O irmão mais velho, Anderson Brum, foi goleiro profissional e já atuou pelo Figueirense. O pai sempre teve o sonho de ver os filhos se tornando jogadores de futebol. E foi à loucura quando o "Deyvinho" ameaçou desistir.
- Minha mãe falava para mim: "O futebol é injusto". Quando a mãe fala, tem que ouvir. Fui falar para o meu pai que queria deixar de jogar futebol. Ele ia ser preso, porque queria me matar (risos). Ficou sem falar comigo um tempão. Aí depois ele falou: "Faça o que você quiser. Se quiser jogar futebol, você que vá atrás, porque não vou te ajudar mais em nada - contou o jogador.
Deyverson se virou. Trabalhou vendendo caldo de cana, salgadinho, ajudando clientes de supermercado a carregarem sacolas. Assegurava o dinheirinho no fim do mês. Mas o destino queria mais para ele. O futebol abriu as portas, e a oportunidade enfim chegou.
- Ele quase matou o velho do coração, poxa vida. Dei uma dura nele, falei para seguir a vida. E foi aí que deu certo (risos) - relembra o pai do atacante.
A bronca por conta dos olhares a Neymar
A final da Copa do Rei contra o Barcelona será também uma chance para Deyverson mais uma vez encontrar seu ídolo: Neymar. O atacante do Alavés tem o costume de trocar mensagens e camisas com o craque. A admiração é tanta que ele já levou até bronca por isso.
- Já tenho umas cinco camisas do Neymar, porque só troco com ele. Não vejo Messi, Suárez, ninguém, só o Neymar. No meu primeiro jogo no Camp Nou fiquei alucinado, sem acreditar, pois foi um sonho realizado. A gente estava aquecendo e entrou o Barcelona, por último veio o Neymar. No aquecimento fiquei olhando para o Neymar, aí o treinador tocava a bola e eu devolvia errado. Ele falava: "Vamos, Deyverson! Atenção!". Fiquei prestando mais atenção no Neymar do que no aquecimento, não estava acreditando que eu estava ali com ele.
Deyverson é um belo exemplo de brasileiro que superou as dificuldades da vida e venceu no exterior. Mas faz o caminho inverso da maioria ao alimentar um sonho: jogar por um grande clube do futebol brasileiro, coisa que ainda não teve chance de fazer. Para ele, melhor ainda se esse time for o Vasco, que desde sempre está no seu coração.
Mas isso está nos planos somente para o futuro, não para o presente. Agora o foco de Deyverson é o Alavés. É a final contra o Barcelona. É a oportunidade de conquistar o maior título da história do clube. E assim poder retribuir o grande carinho que recebe da apaixonada torcida azul e branca.
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