Rio -  O reconhecimento da Palestina como Estado observador pela Assembleia Geral da ONU, por maioria esmagadora, foi seguido por um endosso inesperado por alguns analistas: o do grupo radical Hamas. A mudança de status fora pedida pelo chefe da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, do grupo Fatah. As duas facções, que lutam pela criação e reconhecimento do Estado palestino, já foram aliadas e rivais.

Oriundo da Cisjordânia e liderado por décadas por Yasser Arafat, que morreu em 2004, o Fatah é o maior partido político e facção dominante da ANP. E existe desde o fim da década de 1960 e até cerca de cinco anos atrás foi a face do projeto nacionalista palestino para o mundo. Em 2006, porém, o Hamas, forte na Faixa de Gaza, tomou conta do território após ganhar eleições legislativas.
Jovem palestino comemora com bandeiras do Fatah e do Hamas a aprovação da Palestina como Estado observador na ONU | Foto: EFE
Jovem palestino comemora com bandeiras do Fatah e do Hamas a aprovação da Palestina como Estado observador na ONU | Foto: EFE
Fundado no fim dos anos 1980, o Hamas — sigla para Movimento da Resistência Islâmica — se consolidou como grupo radical com atentados e o disparo de mísseis em direção a Israel, o que fez com que muitos países o considerassem terrorista. Mas também ganhou credibilidade com a população de Gaza providenciando serviços sociais.

Após violentos choques entre os dois grupos em 2007, que incluíram até a expulsão de políticos do Fatah, o Hamas ficou com o domínio de Gaza, o que piorou a relação da região com Israel.

O estatuto do Hamas prega explicitamente a destruição do Estado hebreu. Em 2011, quando o Fatah e o Hamas negociavam a reaproximação, o premiê israelense Benjamin Netanyahu disse que Abbas teria que escolher “entre a paz com Israel ou a paz com o Hamas”.

Grupos se reaproximam

O endosso do Hamas à mudança de status da Palestina na ONU foi visto como reaproximação. “A gente não pode se iludir e achar que Fatah e Hamas vão se tornar grandes aliados imediatamente, mas foi uma diminuição de uma postura radical do Hamas. À frente da ANP, o Fatah saiu da Assembleia da ONU fortalecido como negociador”, observa o mestre em Relaçõs Internacionais e coordenador internacional do curso Clio, Tanguy Baghadi, que observa ainda que, como Estado observador, a Palestina vai ter mais força em algumas negociações com Israel.