Rio -  A última semana do ano é também a maior do calendário. Dura até a quarta-feira de cinzas com direito à famosa “esticada” pro domingo.
O sujeito arrebenta no vinho sagrado da ceia, cruza o Réveillon de Sidra Cereser pelo gargalo, encara o verão com latinhas no isopor pra depois desabar entre energéticos e uísque num bloco de rua. Alguns escolhem essas datas cumprindo gafes casuais.
Cantam a secretária na entrega do amigo oculto, beijam a cunhada na boca em plena queima dos fogos e, definitivamente, saem do armário no Baile das Piranhas do bairro.
Depois, com a máscara do Joaquim Barbosa comprada na Casa Turuna, passa o resto do ano batendo o martelo em questões diversas.
Linhas paralelas envolvem esse triângulo de eventos. As falsas juras.
Mais uma vez, o presente do cônjuge ficou pra noite do dia 23 de dezembro. Uma fila pra passar o cartão, outra pra embrulhar a compra, sem contar a fila da saída — táxi ou estacionamento.
Enquanto a voz no incosciente dispara: — Nunca mais!
Quando chega o Réveillon, o samba portelense do mestre Casquinha se repete — As Falsas Juras.
Um sufoco pra pisar no calçadão de Copacabana. Ônibus apertado, metrô com tíquetes antecipados, ruas fechadas, camelô vendendo churrasquinho Garfield, um tambor soando das areias até um milhão de pessoas voltarem no mesmo barco de Iemanjá pra casa, um distante bairro da baixada, talvez.
E a voz, sussurando: — Nunca mais!
Fechando o ângulo dessa geometria de casos, o Carnaval!
O sujeito, mais empolgado que Rei Momo de prefeitura, marca com amigos no Cordão da Bola Preta às seis da manhã — esse é o horário — mas a Cinelândia, com as cores do bloco, está branca e preta de pessoas. Alguns, feito Padeirinho, procuram marcar seu pedaço de terra pra sambar.
Lotado, ao meio-dia, o sol te seguindo pelas costas, um tal de quem não chora não mama, a mesma voz interior: — Nunca mais!
É um desabafo que dura 40 dias. Já chegou a semana santa, a mala do carro cheia de picanha e drumetes (que loucura!), todos na Rio-Manilha, direção Região dos Lagos.
Um vendedor grita: — Olha a água! Olha a bananada!
E a voz...
Se o mundo não acabou, boas festas, rapaziada!
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