Rio -  Se você estiver lendo esta crônica, dê uma espiada pela janela e verifique se está tudo nos conformes. No meu caso, os conformes é ver, espremido entre dois prédios da minha rua no Leblon, o morro dos Dois Irmãos. Isso é bom. É que ontem, sexta, eles e o restante do planeta deveriam ter explodido. E os Maias (não confundir com Cesar e Rodrigo Maia) estariam certos. Habitavam em remotíssimas eras a região do Caribe e depois sumiram. Tinham uma cultura sofisticada e conheciam matemática e física — o que não os impedia de realizar sanguinolentos sacrifícios humanos para aplacar a ira dos deuses.
Estou escrevendo estas linhas na quinta, dia 20. Então (se ainda estiver vivo), pense no que gostaria de fazer no último momento de vida no planeta, essa titiquinha errante no universo. Eu já decidi: depois de cinco meses sem beber uma gota de bebida alcoólica, tomarei, se tiver tempo, um litro inteiro de uísque pelo gargalo. Dos filmes e livros sobre o fim do mundo — Kubrick, Flammarion, Eliot (“é assim que acaba o mundo / não com um estrondo, mas com um suspiro”) —, nada me empolgou muito.
Já sobre o começo do mundo, acho genial um cartum do Henfil: Deus, aquele velho barbudo dos desenhistas de humor, tira uma meleca do nariz. Essa meleca que começa a vagar sem rumo pelo espaço é a Terra, levando a bordo você, eu, os juízes do STF e o resto da humanidade, sem ninguém na cabine de comando. Sobre o tema, impossível não lembrar do samba de Assis Valente (farmacêutico, cartunista, compositor e suicida), cantado por Carmen Miranda. Uma pala da letra: “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar / Por causa disso a minha gente lá em casa começou a rezar / E até disseram que o sol ia nascer de madrugada / Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada / Acreditei nessa conversa mole / Pensei que o mundo ia se acabar / e fui tratando de me despedir / e sem demora fui tratando de aproveitar/ Beijei na boca de quem não devia / Peguei na mão de quem não conhecia / Dancei um samba em traje de maiô / E o tal do mundo não se acabou.”
E-mail: jaguar@odianet.com.br