Rio -  Uma dica  para quem quer ser cartunista, chargista ou quadrinhista: comece como boy. Millôr trabalhou como boy (na revista ‘O Cruzeiro’). Angeli, me disseram, também. Não n’O Cruzeiro, é claro, mas possivelmente na periferia de Sampa. Como Rê Bordosa, personagem criada (e depois aposentada) por ele, o cara é um viciado, não em birita, mas em trabalho. Um paulistano típico, temo até que seja corintiano. Curiosamente começou a publicar seus desenhos (aos 14 anos!) em 1970, numa revista carioca: a ‘Senhor’, na qual eu trabalhava.
Poderia alardear, sem mentir, que fui eu quem revelou seu talento. Mas foi o próprio Angeli quem descobriu que o editor de humor da ‘Senhor’ era seu colega de profissão: pertencíamos à seita de adoradores de Steinberg, o Picasso do desenho de humor. Não me contive ao dar com essa tira publicada na ‘Folha de S.Paulo’ de terça-feira passada; faço questão de compartilhá-la com vocês. É sensacional: não me lembro de ter visto outro cartum tão específico sobre o nosso árduo ofício de produzir e vender piadas (no meu caso, faço isso há 60 anos). Para não mudar de assunto, aproveito a ensancha oportunosa (copyright de Stanislaw Ponte Preta) para festejar a volta por cima do Verissimo, que voltou a escrever suas crônicas depois de um piripapo que o levou para o hospital.
A Parca andou ceifando humoristas no ano passado: levou Millôr, Ivan Lessa e Chico Anysio. Quase me nocauteou, como já contei neste retângulo, mas levantei antes de o juiz contar até dez. Quando eu tiver 90 anos vou rir muito disso tudo. O mesmo aconteceu com Verissimo; em breve estará tocando seu sax, como eu já estou bebendo minhas cervejinhas sem álcool. Pesquisei e descobri que são tão boas ou melhores que as alcoólicas (falarei disso numa próxima crônica). Para resumir, demos um chega-pra-lá na Indesejada das Gentes. Como dizia Zé do Norte, com quem bebi muita pinga na Feira dos Paraíbas, a gente trinca, mas não quebra. E balança, mas não cai.
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N.A.: Podem me chamar de puxa-saco: a primeira página do dia 28, trocando o amarelo do logotipo pelo preto, mais a foto, sem palavrório, foi um show de jornalismo.