Rio -  Outro dia, abrindo uma exceção, topei ser entrevistado. Cansei de dar as mesmas respostas para as mesmas perguntas durante décadas. Em geral, quando me convidam, é porque já tentaram sem sucesso outras pessoas mais entrevistáveis. Mas a repórter gentilmente me chantageou. Em suma, deu a entender que se eu não topasse aumentaria a taxa de desemprego no país. Fazer o quê? Falei bobagem durante três horas para seu gravador.
A entrevista não foi publicada. Pode ser paranoia , mas achei que estavam esperando para publicar a “última e inédita entrevista de Jaguar”, tido como alcoólatra (ela não sabia que eu era ex). Quando fui proibido de beber, entrei em cava depressão.
Mas, antes que me matasse, descobri excelentes cervejas sem álcool, como a Bavária, nacional, e a alemã Edinger, que tem o mesmo sabor das originais. Bebo umas dez garrafas por dia, como faço há meio século e — o que é a força do pensamento! — me sinto até de porre.
Por falar nisso, o suicídio de Walmor Chagas — numa crise de depressão e também ex-alcoólatra — me balançou. Estivemos juntos algumas vezes. Era brilhante, engraçado, culto, ótimo papo, escrevia bem (colaborou no ‘Pasquim’. Sua primeira matéria no mítico jornaleco saiu no número 21, de 1969). Descobri que tínhamos muita coisa em comum: os dois trancamos a matrícula no curso de Filosofia para ir à luta, bebemos todas, fomos amigos do Millôr.
Mas, principalmente, Cacilda Becker. Quando eu tinha 6 anos, foi minha professora no curso primário em Santos (povoou meus primeiros sonhos eróticos). E foi parceira e mulher dele até morrer, em 1969. Havia diferenças: ele era um dos homens mais bonitos que já vi e, quando bateu a vontade de meter uma bala na cabeça, tinha, guardado numa gaveta, um tresoitão. E eu não.
O suicídio é um mistério. George Sanders, um dos maiores galãs do cinema, era, como Walmor, sofisticado, culto, charmoso, amado por todas e todos. Walmor foi embora sem bilhete. Já George deixou, sucinto e esclarecedor: “I’m bored” (‘enchi o saco’, em brasileiro).