Rio -  É um verdadeiro trabalho de formiguinha, ou melhor, de tartaruguinha. Ao completar 33 anos no litoral do Brasil, o Projeto Tamar conseguiu não apenas atingir a marca de 15 milhões de filhotes de tartarugas marinhas protegidos e soltos ao mar. Quem observa os bichinhos de cerca de 20 gramas e 5 cm correndo para as ondas, constata que uma das principais conquistas foi mudar a cabeça do seu principal predador: o homem.
Crianças veem de perto as tartarugas, se divertem e aprendem no Tamar | Foto: Fernanda Portugal / Agência O Dia
Crianças veem de perto as tartarugas, se divertem e aprendem no Tamar | Foto: Fernanda Portugal / Agência O Dia
As tartarugas — gigantes na idade adulta — surgiram há 110 milhões de anos e sobreviveram até ao desaparecimento dos dinossauros. Hoje, porém, estão em risco de extinção. Mas a maré está mudando...
Até a década de 80, ‘tartarugueiro’ era o pescador que degolava as fêmeas na hora da desova, na praia. Tudo ia para a panela: a carne e os ovos. Hoje, ‘tartarugueiro’ é o fiscal do Tamar. “Mais vale uma tartaruga viva no mar do que morta no prato. Viva, ela dá emprego para mim e meus colegas”, resume Damião Nascimento, de Arembepe (Bahia), que nos anos 70 caçava tartarugas com o pai.
Foto: Arte: O Dia
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Desde 1987, quando foi contratado pelo Tamar, percorre as praias para verificar se os ovos estão seguros. Se correm risco, são removidos para cercados.
O Tamar já ‘resgatou’ 1.300 pessoas, que têm nos centros de pesquisa e de visitação pública do projeto sua fonte de renda: são guias, tratadores, artesãos, vendedores das lojas de suvenires e demais funcionários.
“Hoje, é quase zero o número de depredações de ninhos por pessoas. Entre as atuais ameaças estão atividades turísticas sem regulamentação, como os passeios com quadriciclos na areia, que podem danificar os ovos”, alerta Paulo Lara, biólogo que atua na sede nacional do Tamar, na Praia do Forte (Bahia).
DE CADA MIL, UMA SOBREVIVE
Todo ano, de setembro a março, as fêmeas saem do mar para desovar. A atual temporada não terminou e o Tamar já registrou o nascimento de 800 mil tartaruguinhas. A média é de 1,2 milhão por ano. “A cada mil, apenas uma chega à idade adulta, aos 30 anos”, explica Lara. No entanto, mesmo as que não sobrevivem são fundamentais, por serem a dieta de inúmeras outras espécies de animais, preservando assim a cadeia alimentar nos oceanos. Por isso, proteger as tartarugas é salvar o Planeta.
A ONG Fundação Pró-Tamar co-administra o projeto, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e patrocinado pela Petrobras, entre outras empresas.