Rio -  Carnaval: será que as crianças entendem o significado desta festa? Parece meio estranho, não? Nem bem o ano começa e ele já dá uma pausa. Por quatro dias, uma grande celebração acontece fora de casa, muitas vezes na rua, cheia de cores e fantasias, regada a samba, bebida, dança, sensualidade, brincadeira e irreverência de vários foliões. Todo mundo junto e misturado. Período no qual tudo é, supostamente, permitido. E todos — crianças, jovens e adultos — têm a ‘obrigação’ de se divertir e de ser feliz com data marcada.
Nesta folia, a criança é levada a experimentar, mesmo de forma limitada, a sensação de ser livre e igual ao adulto (e vice-versa) no sentido de se exibir e se fantasiar, brincar, cantar, torcer e virar a noite. No Carnaval dos dias de hoje, parece que a fronteira entre crianças e adultos diminui mais ainda. Como afirma o antropólogo Roberto DaMatta, talvez a diferença esteja apenas na ênfase no corpo que “divide e junta bem o Carnaval infantil do Carnaval adulto”.
Creio que as escolas de samba mirins e, mais recentemente, os blocos voltados para a garotada foram alternativas que os adultos criaram, ao longo do tempo, com o objetivo de integrar as crianças à folia do Carnaval adulto. Ou seria a forma pela qual o comércio/mercado encontrou de atrair meninos e meninas e, consequentemente, seus pais? Haveria ainda outra resposta? Fica como reflexão.
Nesta festa de crianças, jovens e adultos, talvez o que vale mais a pena ser considerado seja o fato de a folia ser, de certa forma, democrática. Celebração onde todos, independentemente de sexo, idade, profissão e classe social, dançam, cantam e se divertem uns com os outros. Essa harmonia, provocada em nome da folia, poderia, de certo, virar rotina, não acabando, infelizmente, na Quarta-feira de Cinzas. E ser, na prática, o verdadeiro significado da festa para as crianças.
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia