sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Luto: Reginaldo Rossi faleceu nesta manhã

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Foi tudo muito rápido. Em um susto ficamos sabendo que Reginaldo Rossi estava internado em uma UTI, no dia 27 de novembro. A princípio, não se sabia ao certo o que era. Infarto foi descartado, mas os médicos eram cautelosos sobre o que poderia ser. Depois, a confirmação: Reginaldo Rossi estava com câncer. Agora há pouco, a notícia mais temida, a que ninguém queria dar nem receber. Aos 70 anos, o cantor faleceu na manhã desta sexta-feira (20), segundo o relato de alguns amigos, inclusive o radialista Geraldo Freire, amigo pessoal do cantor.
Ao descobrir o câncer, Reginaldo Rossi chegou a fazer um ciclo de quimioterapia para tratar a doença. Foi, até então, o momento mais crítico, quando foi entubado e sedado. No começo da semana apresentou melhoras, chegando a respirar sem aparelhos e a se comunicar com a equipe médica. Ontem, o Rei do Brega teve uma piora, voltando a ser entubado e sedado. Além do câncer, Reginaldo Rossi lutou contra problemas renais e hepáticos.
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Nascido em 1943 (segundo a família; ou 1944, segundo o dicionário Cravo Albin), o rei do brega é um personagem único na Música Popular Brasileira. Começou a carreira com a banda The Silver Jets no começo da década de 1960, cantando sucessos da Jovem Guarda, muitas vezes versões em português de músicas dos Beatles. Na década de 1970 enveredou pelo estilo romântico, seguindo um caminho à margem da MPB engajada da época.
Foi talvez a época mais difícil da carreira de Rossi, que parecia que não iria decolar. Ficou quatro anos, entre 1976 e 1980, sem contrato com nenhuma gravadora. Os anos 1980 foram bem mais generosos. Assinou com a EMI e gravou oito discos em dez anos. Seu sucesso, porém, era restrito ao Nordeste. No resto do país, era mencionado como mais um imitador de Roberto Carlos.
Tudo mudou no final da década de 1990. Reginaldo Rossi finalmente conquistou renome nacional. Teve uma empurrãozinho de uma reportagem da revista Veja, de muita repercussão na época, sobre artistas que eram populares no “interior” do Brasil, mas o reconhecimento mesmo aconteceu por conta de dois discos: Reginaldo Rossi ao vivo, de 1998, e Reginaldo Rossi the King, de 1999. Eram registros do rei no palco, local que dominava como poucos e se sentia em casa.
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The king, que teve a participação de nomes nacionais, como Wanderléa, vendeu mais de um milhão de cópias em uma época já de declínio das vendas de CDs. O Brasil todo se rendia a Reginaldo Rossi. E Garçom era seu carro-chefe.
Com o sucesso de vendas vieram as entrevistas, outro ponto em que o rei dava um show – nem sempre muito positivo, quase nunca politicamente correto. Sem papas na língua,  Rossi despejava frases de efeito em revistas e jornais. Já famoso, disse em 1999 a revista Veja que “A tropicália foi um modismo tanto quanto a lambada” e que “quem tem de dar cultura ao povo é o governo. Os artistas devem dar diversão.”
Na mesma entrevista, sempre falando em terceira pessoa, escancarou seu orgulho de ser brega, com um certo ar de enfrentamento. “Hoje, ser brega é que é bom. Antigamente, a palavra brega era pejorativa, o contrario de legal, maneiro, descolado. Dizem que foi o Reginaldo Rossi que conseguiu mudar essa coisa. Mas o mérito não é só meu. Eu fui o homem certo na hora certa”.
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Nos anos 2000, Reginaldo Rossi se tornaria mais pop do que brega. Em 2006, já tardiamente, lançou com enorme sucesso seu primeiro DVD, Reginaldo Rossi – ao vivo, somente com hits: O dia do corno, Volta amor, Eu devia te odiar. Ali, Rossi mostrava seu lado “comediante”, tão forte nos seus shows. Falava com a plateia, contava anedotas, insistia no assunto traição, que virou sua marca registrada.
O segundo e mais recente DVD, Cabaret do Rossi, veio em 2010 repetindo e ampliando a fórmula do DVD anterior: grandes sucessos radiofônicos e ainda mais conversas com a plateia. No palco, era um entertainer. Era impossível ir a um show do Rei do Brega sem soltar algumas gargalhadas. No fim da carreira, Rossi já havia ultrapassado as fronteiras do brega e do pop: havia se tornado folclórico.
Tão folclórico ao ponto do público relevar declarações misóginas e polêmicas, quando, em 2010, durante o caso de abuso sexual no reality show Big Brother Brasil, disse ao Diario que não havia abuso. “Outro dia, teve aquele caso, do estupro no Big Brother. As mulheres vão para lá, vão para uma festa, enchem a cara… Aí entram embaixo do edredom com o cara e dizem que estava aquilo na mão, mão naquilo. Depois adormecem. O cara continua e é estupro? Para mim não cabe”, disse.
Ao longo da carreira recebeu 14 discos de ouro, dois de platina, um de platina duplo e um de diamante.
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Boêmia - Rossi costumava dizer que só tinha um vício: mulher. Mas não era bem assim. Foi viciado em jogo e perdeu muito dinheiro em mesas de pôquer. O vício do cigarro o acompanhou por 50 anos. Fumava até mesmo no palco, onde tinha uma espécie de cantinho do fumo, com um cinzeiro e um maço de cigarro. Lembro de um show dele no ano passado que durou exatamente uma hora e no qual contei que ele fumou 12 cigarros. O cantor também era fã de whiskey, bebida que gostava de consumir com refrigerante.
Eclético - Rossi gostava de dizer que era eclético no seu gosto musical. Gostava “de música boa”. Em 2010 fez uma lista para o site da Record com seus cinco discos favoritos. A escolha foi Andrea Boccelli (Vivere – the best of), The Beatles (A hard day’s night), Cauby Peixoto (Cauby! Cauby!), Ultraje a rigor (Nós vamos invadir sua praia), Mozart (Um cd “the best of”) e Raul Seixas (Gita).
A maldição de 2013 – Não há dúvidas de que 2013 foi um péssimo ano para a música pernambucana. Perdemos grandes compositores, que fizeram músicas que estão na memória coletiva dos pernambucanos. Dominguinhos, Arlindo dos Oito Baixos, Carlos Fernando, João Silva. Todos na casa dos 70 anos.
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