Rio -  É da natureza ser do contra.
Na minha juventude, ataris e búlica, o moderno era inverter a sola das sandálias, aquelas que não soltavam tiras. O preto do piso, em cima.
Meu pai diminuía o som da televisão ouvindo a transmissão pelo rádio e eu apostando que eram diferentes partidas.
Conheci casos em que o sujeito, de ingresso na mão, circulava pelo anel do Maracanã, somente no acesso, “egoísta” no ouvido, torcendo aos gritos. Nem uma butuca no corredor, se atrevia.
Com um diagnóstico próximo a superstição, o gaiato prefere a cabeça ao corpo do camarão. Diz que é bom pros neurônios, assim como o melhor do rabanete está no ramo sempre descartado.
Faz suco da casca do abacaxi e é fã de making of — só o que presta — fala, sem pudores.
Música boa é que não faz sucesso.
É ser do contra mesmo.
Pegar táxi em aeroporto, só no embarque.
Frigideira, só encardida.
Aliás, sobre comida...
Do frango abatido, apenas o coração. Do bacalhau, só presta o rabo, e, do ovo, dependendo da dieta em voga, só a gema ou a clara em neve.
Acender o carvão em churrasco familiar é outro exercício de opiniões contrárias: “Sopra! Não, só o álcool! Não, jornal enrolado! Não, querosene em pasta!”
A meteorologia previne chuva e você morre de ensolação, desidratado.
Resumindo, quando se corta um caminho, mas a bandeirada vai longe.
O mais recente movimento contra-maré aconteceu na escolha do grande Felipão.
O antigo técnico, indo mal das pernas — ou da prancheta, pra ser do contra — perde as principais competições disputadas e é mantido. Quando melhora, cai.
O novo professor, parte responsável por desbancar um tradicional clube brasileiro pro buraco da segunda divisão, está contratado, o melhor pro cargo.
Cá pra nós, existe um ser humano a favor de algum técnico do escrete canarinho?
Quer dizer, arara, afinal quantos títulos também ganhamos vestindo azul?
E-mail: moacyrluz@ig.com.br