Rio -  Conheci Joelmir Beting na década de 1980. Devido a seus comentários econômicos críticos à ditadura, recheados de metáforas e tiradas brilhantes, convidei-o a fazerpalestra na Semana do Trabalhador, em São Bernardo do Campo. Pouco depois, sugeri a Fidel Castro, interessado em conhecer melhor a economia brasileira, convidar Joelmir Beting para visitar Cuba. Desembarcamos em Havana na quinta, 9 de maio de 1985.
Fidel perguntou ao jornalista sobre seu trabalho diário. Joelmir falou de sua rotina no rádio, no jornal e na TV. Contou também um pouco de sua história: era filho de um boia-fria morto, como tantos outros lavradores ainda hoje, devido à queda do caminhão que o levava ao trabalho. Cresceu entre lavouras de cana e café, criado pelo venerável padre Donizetti, em Tambaú, interior de São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e trabalhou como professor primário - o que lhe deu facilidade para traduzir o economês em linguagem acessível ao grande público.
Joelmir perguntou a Fidel se gosta de falar em público.
— Tenho medo cênico. Falo de improviso, porque o povo não gosta de discursos escritos. Parto de argumentos. É claro que chego tenso, mas a reação do público estimula. Chego como quem se apresenta a um exame. Quando devo falar de saúde, por exemplo, preciso memorizar as cifras. Se for preciso gravar os índices de mortalidade infantil, consigo-o rápido. É mais difícil quando o problema está determinado por quinze ou mais fatores. Tenho que dominar o tema e ordená-los.
O diálogo entre os dois foi reproduzido em forma de entrevista em todos os jornais brasileiros para os quais Joelmir Beting colaborava na época e, em agosto de 1985, editado em livro pela Brasiliense, sob o título ‘Os juros subversivos’.
Escritor, autor de ‘Sobre a esperança’, em parceria com Mário Sérgio Cortella