Rio -  A beleza e o sorriso largo da véspera, quando se destacou e arrancou suspiros na cerimônia de posse como vice-prefeita de Nova Iguaçu, se transformaram em indignação.
Nesta quarta-feira, a dermatologista Dani Nicolasina, de apenas 24 anos, foi ao Hospital da Posse com o prefeito e ficou chocada com o que ainda não havia visto na sua carreira de médica iniciante. Vestida de branco, ao lado de Nelson Bornier, a jovem se revoltou com as cenas de total descaso no principal hospital da Baixada Fluminense.
“É um abandono total”, disse ela, que de musa virou a "xerife" do hospital. “Em todas as enfermarias da Posse há vidros quebrados, inclusive na Emergência. Há luminárias penduradas nos banheiros, ar-condicionado sem funcionar. É um imenso descaso com a vida”, disse ela, formada há dois anos e agora diante do maior desafio de sua vida: ser vice-prefeita.
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O prefeito Nelson Bornier e sua vice, Dani Nicolasina, conversam com pai de paciente no Hospital da Posse  | Foto: Divulgação
“Olha, foi muito duro ver o que vi. Primeiro, como médica que sou, e depois como cidadã”, emenda a moça, dona de beleza exótica por conta dos traços sinuosos do rosto. “Vou acabar acreditando que sou bonita mesmo”, diz, para logo depois se permitir um sorriso de vaidade.
Dani ouviu dos funcionários que, na última chuva forte, parte da Emergência sofreu com o refluxo de água pelos ralos. “Não é o tipo de coisa que eu possa aceitar”.
Ela confirma o estado de calamidade decretado pelo prefeito Nelson Bornier como uma maneira de trazer ajuda de Brasília para o hospital. E conta que ambos já estiveram com Alexandre Padilha, ministro da Saúde, e que ouviram dele a promessa de socorro. Mas diz que ainda precisa de mais alguns dias para saber qual o real estado do hospital. “Só conseguimos entrar lá no dia da posse. Não houve transição”, explica.
Nesta quarta-feira, tomou posse a comissão, presidida pelo médico Joé Sestello, que vai fazer uma devassa em busca de soluções para os problemas que saltam aos olhos. A vice-prefeita promete olhar com lupa o Hospital da Posse.
“As paredes estão quase todas infiltradas, há mofo no teto, está tudo bem complicado. O primeiro passo é levantar tudo isso. A situação é crítica, mas para sabermos até onde ela vai, precisamos de mais tempo”.
Evangélica e de bem com o namorado
Dani se diz encantada com a nova função e que ser vice-prefeita já mudou sua rotina. Alçada ao cargo “pelas mãos de Deus”, já que entrou na chapa a dois dias da eleição, ela avisa que vai deixar a pós-graduação no Hospital da Gamboa, pois não terá tempo de conciliar as funções.
E garante aos fãs de plantão que o relacionamento com o namorado, um gastroenterologista, "vai bem, obrigada". “Ele estranhou no começo, mas é bem compreensivo e me apoia. O ciúme é o que há em qualquer relacionamento sadio”, diz ela, que frequenta a Igreja Evangélica do Calvário. “Agora acho que só poderei ir aos domingos”.
Boa gestão é maior desafio
A ideia de devolver o Hospital da Posse à administração federal, sugerida pelo prefeito Nelson Bornier, soa mais como chantagem do que intenção real. Foi ele mesmo que municipalizou a unidade quando era prefeito de Nova Iguaçu, em 2002. Na ocasião, a medida surtiu efeito: o hospital recebeu novos aparelhos e contratou mais profissionais.
Em 2006, a unidade viveu outra crise, com falta de médicos e remédios e superlotação da Emergência. Em 2007, o então prefeito Lindberg Farias também ameaçou devolvê-la à União, mas não o fez. O prefeito que agora retorna tem nova chance de resolver o problema em vez de tentar transferi-lo.