Rio -  O cearense Danilo Rodrigues Marques, 30 anos, morador do Pavão-Pavãozinho, assina embaixo quando o assunto é a melhora na coleta de lixo na comunidade. Para ele, a pacificação do morro só deixou um furo: a parte mais alta da favela, que “precisa melhorar”. E este furo não incomoda apenas quem vive no alto da comunidade. Do outro lado da pedra, no asfalto, Enrico Gattuso continua sofrendo com um problema que vem dos anos 80, quando os moradores expandiram suas casas para as pedras que fazem fronteira com o edifício Líbano, na Rua Djalma Ulrich 201.

“Já não sei mais o que fazer”, diz ele, síndico do prédio que, em dezembro de 2009, sofreu com a enxurrada de lixo que desceu da encosta, invadiu o pátio e quase causa uma tragédia. “A gente convive com lixo diariamente aqui. É geladeira, fogão, fralda...jogam tudo”, reclama.
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
Favela, prédio e lixo em foco: mistura explosiva criticada por moradores de Copacabana | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
No dia em que a reportagem visitou o prédio, a encosta que faz divisa com a comunidade estava relativamente limpa. O próprio Gattuso admite que o problema está menor. Mas faz carga contra a Comlurb. “Tenho que pagar uma desratização particular”, acrescenta.

Conscientização

A solução para a queixa do escultor de areia que vive no Pavão e do síndico do edifício Líbano passa pela conscientização da comunidade, diz Alzira Vargas, líder comunitária do Pavão/Pavãozinho. Segundo ela, é preciso que os moradores entendam a importância de levar o lixo até um conteiner. Ela conta que a associação que preside tem um sistema de rádio comunitário que usa para pedir aos moradores para não jogarem o lixo nas vielas.

“Tem gente que põe o lixo na porta da casa do outro, entulho, sofá”, diz Alzira. “Não é possível o morador achar que vai resolver seu problema na porta da casa dos outros. Tem até quem ponha entulho”, reclama. Para Alzira, a coleta melhorou demais desde que a comunidade ganhou a UPP. “Nem se compara.”

Chileno fica constrangido com a ‘Cachoeira de Lixo’

“Por favor, que no pensem que a los chilenos no le gustem de Brasil”. A frase do publicitário Claudio Ramirez, temendo que suas críticas sejam confundidas com um anti-brasileirismo em plena praia de Copacabana, mostra o quanto o ‘gringo’ ficou constrangido ao ser alertado sobre a ‘cacheira de lixo’ descendo a encosta do Pavão em direção à Rua Djalma Ulrich. Claudio aproveitava o Verão na beira do mar, em frente à antiga Boate Help, quando viu a sujeira brilhar.

“O lixo tira a beleza da cidade”, diz ele, que nasceu e mora em Santiago, a capital do Chile. “Lá também há pessoas que jogam lixo nas ruas, mas a maioria se preocupaem evitar que isso aconteça”, emenda. “Mas que feio”.

Para Comlurb, ainda dá para melhorar mais

Diretor de operações da Comlurb, Luís Guilherme Gomes garante que a situação do edifício Líbano está bem melhor. Mas sabe que ainda há muito por fazer. “Os moradores que jogavam o lixo por cima já não jogam tanto. Não dá para dizer que um ou outro não vai jogar, mas se tem um lugar que avançou bastante, foi o morro do Pavão em relação ao Edifício Líbano, na Djalma Ulrich”.