Rio -  A falta de médicos nas emergências tem sido a principal preocupação nossa e da população. Depois das manchetes, as autoridades julgam e condenam os profissionais, antes mesmo de eles serem ouvidos, conforme ocorreu recentemente no Salgado Filho, no Méier. O prefeito violentou o médico envolvido, chamando-o de delinquente, e ao Sindicato dos Médicos, taxando-o de defensor de delinquentes. Até o Ministério da Saúde reconheceu que o Rio de Janeiro tem a pior assistência do SUS. Como agravante, os gestores municipais acham que podem, sem médicos, promover o atendimento à população, inclusive delegando a outros profissionais de saúde procedimentos que só podem ser realizados por nós.
Quando uma manchete sobre a crise é estampada nos jornais, automaticamente o governo busca um bode expiatório para assumir a sua responsabilidade. Mas como é possível um hospital de emergência como o Salgado Filho funcionar com um único médico neurocirurgião demissionário? Ou o Lourenço Jorge, na Barra, vizinho de uma avenida recorde em número de acidentes de trânsito, nunca ter tido neurocirurgião de plantão? Ou outras unidades apresentarem déficits de diversas especialidades? Quando um paciente encontra o especialista necessário, tira a sorte grande. Do contrário, muitas vezes, a consequência é a morte.
Será que o secretário de Saúde até hoje desconhece o quantitativo necessário para compor as suas equipes? O próprio órgão, em seu site, divulgou as escalas dos plantões da noite de Natal e da véspera, atestando a insuficiência de médicos especialistas de várias equipes de suas quatro emergências. Faltar ao trabalho por motivo garantido por lei não é crime. Não ter substituto, é. É fácil concluir que essa falta de responsabilidade pode gerar situações delinquentes e homicidas.
Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro