Rio -  Diogo Vilela apresenta um Barroso soturno. Cujo único dilema é aceitar ou não o convite de seus fantasmas, para ir desfilar no Império Serrano de 1964. O compositor na penumbra de seu leito de morte, contando sua vida. Muita obra-prima cantada, todas inexplicavelmente contidas, como a ‘Aquarela de Silas’. Eu vislumbro um Ary solar, épico, porque sempre vi a Baixa do Sapateiro pelos acordes dele: tabuleiros e baianas na ladeira, por entre moleques e malandros; com palmeiras brilhosas e jandaias coloridas. Um Brasil luxo só, orgulhoso do mulato isoneiro. Eu quis verão e veio inverno total.
Se o coqueiro dá coco, sambista dá sorriso? Nem sempre. E um dos desafios da coluna ‘Direto da Cidade do Samba’, que estou assinando no nosso O DIA, é mostrar alguns personagens das escolas, sorrindo. Como a divina professora Rosa Magalhães, que atendendo ao pedido do fotógrafo abriu seu lenço em asas, e caiu na gargalhada. Foi uma Rosa inusitada, exibicionista. Me lembrei do lançamento em que Hollywood anunciava “Greta Garbo ri”, para atrair os fãs da atriz que estranhavam o fato de ela ser tão gélida. E aí parti para o Barracão da Beija-Flor buscando a seguinte manchete: Laíla ri! E conseguimos um bom sorriso do Mestre do Carnaval, colocando-o ao lado de um velho amigo, no qual ele confia plenamente. Já o presidente da Tijuca, Fernando Horta, respondeu para o fotógrafo: “Não sou homem de sorrisos. Você não vai querer mudar minha personalidade, né?” E das poses registradas, numa única ele está sorrindo. O bom português foi flagrado num descuido de riso, e agora temos a prova definitiva de que os brutos também amam, digo, sorriem! Na minha fantasia infantil, todos os envolvidos em Carnaval eram sempre sorridentes. Mas a folia tem todo o tipo de gente, as mais variadas formas de existir e isto é ótimo porque a diversidade é rica. Tem até o sujeito que, segundo um poderoso diretor de Carnaval, carrega o guarda-chuva que o Aroeira desenhou, onde a tempestade é só dentro da copa da sombrinha, e lá fora faz um dia lindo.
Acho que a maioria do povo do Carnaval é bem-humorada, e 50% deles passam a vida a sorrir. E, representando esta categoria “pra cima”, elejo a eterna porta-bandeira Maria Helena nossa estrela absoluta: este final de semana eu a vi rodopiando, louca, sozinha, na frente das escolas, sempre muito aplaudida e acarinhada pelo grande público, que a respeita e ampara. Uma senhora porta (sem) bandeira, a sambista sem pavilhão, que, em sua loucura, por ser feliz, roda e mira a multidão longe nas arquibancadas, fazendo mesuras. Seu sorriso é maior que a Sapucaí, e vara nossos corações escolhedores da alegria. O sorriso do desfilante é a grande arma do ziriguidum contra o enfarte e o enfadonho.