Siro Darlan: Casamento para todos
Rio - Num mundo globalizado que anuncia a falência desse modelo de Estado, a dignidade humana é o elemento mais exigente do paradigma que se procura para restaurar a ordem internacional. Um novo futuro com dignidade para a geração que vai receber o peso desse legado. Nesse contexto, a redefinição da família nos termos que a sociedade propõe é necessidade de coerência entre o real e o legal. É inevitável a rediscussão do casamento como formas de união afetiva entre as pessoas. O casamento para todos constitui um progresso social exigível para haver coerência com a prática constatada pelos números do IBGE.
O debate segue intensivo de um lado e de outro do Atlântico. Enquanto a Assembleia Nacional Francesa discute os valores sociais, éticos e religiosos para aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a intelectualidade americana continua reagindo; alguns estados submetem o debate a sufrágios populares, e outros resistem ao debate, afirmando que o casamento é a união de um homem com uma mulher. Essa resistência hipócrita a uma radical revisão da natureza do casamento se contrapõe à própria evolução social e cultural que afirma ser inevitável a revisão desse conceito.
O casamento é a união de dois corações que se amam e de dois corpos que se complementam sexualmente. Para uns, este último requisito tem por finalidade única a reprodução. Na verdade a própria definição de amor é complexa e variada, já que o amor de um pai pelo filho ou pela filha pela mãe não exigem necessariamente um complemento reprodutor. No fundo se dois homens ou duas mulheres se casarem o que vai distinguir essa relação das demais será a intensidade ou a prioridade afetiva.
As pessoas que através de um liame sentimental se unem, independentemente do gênero, não estão obrigadas à reprodução, e a grande maioria das relações sexuais modernamente não deságua na reprodução. Portanto, não será essa última que vai qualificar ou não um encontro afetivo entre duas pessoas.
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia
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