Leda Nagle: Estamos combinados
No Rio é chique chegar, no mínimo, meia hora depois da hora combinada. O ‘normal’ é jamais ser pontual
Rio - Toda cidade tem seus hábitos, seu jeito e suas manias. No Rio, é “normal” chegar atrasado a compromissos. Claro que vivemos num grande canteiro de obras, que os túneis e elevados têm hora pra fechar e pra abrir que nem as lojas das outras cidades. Claro que vivemos engarrafados a qualquer hora do dia ou da noite. Mas não é por conta de nada disto que, por aqui, se chega sempre depois do horário marcado. No Rio é chique chegar, no mínimo, meia hora depois da hora combinada.
O “normal” é jamais ser pontual. As pessoas convidam para o jantar às nove da noite, mas não ouse obedecer. Se o fizer, vai criar um constrangimento para seu anfitrião ou anfitriã ou vai ficar, você mesmo, constrangido. Se o encontro for num restaurante aonde você nunca foi ou que não tenha a sorte de encontrar nenhum garçom ou maitre que você já viu em outro lugar, vai, com certeza, ser vítima de olhares surpresos. Se marcar no restaurante de sempre, é menos grave porque, se gostar de futebol, pode aproveitar o tempo para discutir com o garçom a última rodada do Campeonato Brasileiro.
Eles sempre sabem das últimas contratações ou demissões. Se for na casa de alguém, é mais complicado porque, quando você chega, a dona da casa ainda está dando os últimos retoques na decoração, ou ainda não acabou de se arrumar, ou o marido está terminando de fazer a barba. Num sábado, certa vez, eu e meu velho amigo Edney cometemos o erro de chegar, pontualmente, às três da tarde, hora combinada para o almoço, na casa de um amigo. Na porta do apartamento, escutamos um barulho que parecia ser de um adorável aspirador de pó. Claro que não levamos fé na impressão e tocamos a campainha.
A empregada abriu a porta, absolutamente perplexa, e perguntou se já tínhamos chegado para o almoço. O dono da casa estava no banho e ela, arrumando a casa, como podíamos constatar. Mortos de vergonha, demos uma desculpa e desistimos. Com Luiz, outro amigo do tipo pontual, passei uma vergonha memorável, desta vez num jantar de aniversário. E, neste caso, nem deu para escapar porque o pai da aniversariante nos recebeu se desculpando (nossa amiga estava terminando de fazer o cabelo) e nos convidou para assistir televisão com ele, enquanto esperávamos.
A sessão de TV incluiu o telejornal e a novela. Conversando com um amigo francês, outro dia, esperando na sala pelo dono da casa que, claro, estava atrasado, ouvi uma explicação que pode definir esse hábito: por aqui há um clima de descompromisso. Pode até ser. Mas, de agora em diante, só chego meia hora depois da hora marcada. E estamos combinados.
E-mail: comcerteza@odia.com.br
O “normal” é jamais ser pontual. As pessoas convidam para o jantar às nove da noite, mas não ouse obedecer. Se o fizer, vai criar um constrangimento para seu anfitrião ou anfitriã ou vai ficar, você mesmo, constrangido. Se o encontro for num restaurante aonde você nunca foi ou que não tenha a sorte de encontrar nenhum garçom ou maitre que você já viu em outro lugar, vai, com certeza, ser vítima de olhares surpresos. Se marcar no restaurante de sempre, é menos grave porque, se gostar de futebol, pode aproveitar o tempo para discutir com o garçom a última rodada do Campeonato Brasileiro.
Eles sempre sabem das últimas contratações ou demissões. Se for na casa de alguém, é mais complicado porque, quando você chega, a dona da casa ainda está dando os últimos retoques na decoração, ou ainda não acabou de se arrumar, ou o marido está terminando de fazer a barba. Num sábado, certa vez, eu e meu velho amigo Edney cometemos o erro de chegar, pontualmente, às três da tarde, hora combinada para o almoço, na casa de um amigo. Na porta do apartamento, escutamos um barulho que parecia ser de um adorável aspirador de pó. Claro que não levamos fé na impressão e tocamos a campainha.
A empregada abriu a porta, absolutamente perplexa, e perguntou se já tínhamos chegado para o almoço. O dono da casa estava no banho e ela, arrumando a casa, como podíamos constatar. Mortos de vergonha, demos uma desculpa e desistimos. Com Luiz, outro amigo do tipo pontual, passei uma vergonha memorável, desta vez num jantar de aniversário. E, neste caso, nem deu para escapar porque o pai da aniversariante nos recebeu se desculpando (nossa amiga estava terminando de fazer o cabelo) e nos convidou para assistir televisão com ele, enquanto esperávamos.
A sessão de TV incluiu o telejornal e a novela. Conversando com um amigo francês, outro dia, esperando na sala pelo dono da casa que, claro, estava atrasado, ouvi uma explicação que pode definir esse hábito: por aqui há um clima de descompromisso. Pode até ser. Mas, de agora em diante, só chego meia hora depois da hora marcada. E estamos combinados.
E-mail: comcerteza@odia.com.br
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