Dor de herói
Pesquisa mostra, que apesar da imagem de homens destemidos, bombeiros do Rio podem sofrer com pelo menos três síndromes causadas pela pressão do trabalho. Uma delas é a fadiga da compaixão
IRRITABILIDADE, PESSIMISMO, DEPRESSÃO

Bombeiros sofrem com síndromes, revela estudo
Foto: Severino Silva / Agência O DiaSegundo o psiquiatra, a fadiga da compaixão é um efeito do Burnout e seria uma espécie de defesa. “ No caso dos bombeiros, depois de tanto trabalhar em situações adversas, ele acaba ficando anestesiado. Não sofre tanto diante de algo ruim”. Ao contrário da Síndrome de Burnout, que é um problema de esgotamento crônico, o estresse pós-traumático consiste em uma situação de luto causada por um evento negativo, como acidente grave ou morte.
Os sinais (apatia, depressão e isolamento social) devem permanecer por mais de seis meses. Teng ressalta que o problema causa, inclusive, alterações físicas no cérebro, como a morte de neurônios. “Em muitos casos, pessoas que sofrem com esses transtornos fazem uso de álcool e drogas para amenizar o sofrimento”, declara. Dieta saudável e equilíbrio entre lazer e trabalho ajudam a evitar os transtornos.
Terapia para lidar com rotina hospitalar
Profissionais da rede estadual de saúde, como médicos e enfermeiros, contam com tratamento psicológico. O Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, é a unidade de referência para a prevenção de estresse ligado ao trabalho. Além da terapia, há sessões de acupuntura e shiatsu.
Segundo a Secretaria estadual de Saúde, são cerca de 500 atendimentos por mês. A equipe é composta por especialistas em psiquiatria, psicologia, cardiologia, fisiatria (medicina física e reabilitação), nutrição e fisioterapia.
De acordo com a psicóloga da unidade, Bárbara Rocha, os profissionais que mais apresentam transtornos são os técnicos de enfermagem, seguidos por enfermeiros, médicos e assistentes sociais. “O serviço trata, principalmente, do sofrimento psíquico, ocasionado pelo dia a dia no hospital. Nas sessões, o profissional é convidado a falar sobre si mesmo e sobre o motivo do estresse”, disse.
Os problemas mais comuns são ansiedade e depressão. Há ainda casos de dificuldade de adaptação à rotina hospitalar. “Os principais relatos estão relacionados às dificuldades de lidar com o sofrimento, com a dor e com a morte de pacientes”, descreve.
'É PRECISO SE VER COMO SER HUMANO'
TENENTE-CORONEL PATRÍCIA FIGUEIREDO, PSICÓLOGA DO CORPO DE BOMBEIROS

Tenente-coronel Patrícia Figueiredo
Foto: Divulgação
Em 2012, o Corpo de Bombeiros iniciou um treinamento especial com comandantes. Nada sobre salvamentos. O assunto foi como identificar alterações psíquicas relacionadas ao trabalho. Na corporação há 11 anos, a tenente-coronel Patrícia Figueiredo conta que o grande desafio é sensibilizar os bombeiros sobre a necessidade de lidar de forma ‘humana’ com a tensão.
1. Por que iniciar o acompanhamento psicológico?— Temos uma realidade que envolve imprevistos e estresse. E esse estresse pode virar doença. Trata-se de um trabalho preventivo para evitar Burnout e estresse pós-traumático nos bombeiros.
2. O que já foi feito?
— Capacitamos comandantes para identificarem problemas psicológicos. Temos no hospital da corporação um espaço para tratar casos diagnosticados como transtornos.
3. Que tipo de tratamento é oferecido aos profissionais?
— Temos terapia individual e em grupo. O primeiro grupo foi formado em maio com 10 bombeiros. A maioria trabalha em resgate aéreo e rabecão, situações de grande estresse. São feitos dez encontros com duas horas cada.
4. Quais são os resultados?
— Há grande melhora individual e na corporação. Promovemos o bem estar do bombeiro, o que evita que haja baixa produtividade.
5. A imagem de herói que eles têm é uma pressão extra no trabalho?
— Sim. Eles usam farda e salvam vidas, mas por trás disso há um ser humano. É importante que eles próprios se exerguem assim.
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