Fernando Molica: O desafio de contar boas histórias
Lidamos com vida em estado bruto, não é fácil resumi-la, transformá-la em notícia
Rio - Vale usar o chavão do ex-presidente Lula: nunca antes na história deste país jornalistas foram tão questionados como agora. As manifestações e o surgimento de fenômenos como o Mídia Ninja destamparam uma espécie de rancor contra a imprensa, raiva que explode em xingamentos na internet e em agressões nas ruas.Passamos de paladinos contra as injustiças a cúmplices de todas as formas de repressão.
Como qualquer grupo profissional, acumulamos erros e acertos. Lidamos com vida em estado bruto, não é fácil resumi-la, transformá-la em notícia. Ao longo deste trabalho surgem embates, contradições e dúvidas. Quem acredita em pensamento único nos jornais nunca pisou numa redação; publicações que abrem mão do contraditório tendem a sucumbir. Sequer podemos esconder nossos pecados, tudo o que fazemos é público, estamos expostos à necessária vigilância, às vaias e aos aplausos.
A internet fez com que falar para milhares ou milhões de pessoas deixasse de ser privilégio dos jornalistas, o que é ótimo. O problema é que, lambuzados pelo exercício deste doce poder, muitos de seus detentores partiram para um acerto de contas. Consideram manipulação qualquer notícia que não seja uma defesa explícita da causa que defendem, chegam a fingir que não é depredação e vandalismo a depredação e o vandalismo que se revelam diante de seus olhos. Alguns atropelam a pluralidade de vozes que tanto dizem defender e tentam impedir o trabalho de quem poderá dar outra versão dos fatos.
No momento em que levamos tantas pancadas, vale frisar um episódio ocorrido na manhã de domingo, durante a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que reuniu, na PUC, 1.300 pessoas de 87 países. Diante de uma plateia lotada, a repórter Míriam Leitão admitiu seu medo ao fazer, com o fotógrafo Sebastião Salgado, a reportagem sobre os índios Awá publicada em ‘O Globo’. Medo dos madeireiros? Não: “Medo de não merecer aquela história, de não entender aquela história, medo de não saber contá-la.” “Com 40 anos de jornalismo — completou — é muito bom ter medo.” Foi ótimo ouvir seu depoimento sobre a tensão, a alegria e a insegurança diante do desafio de contar boas histórias, histórias que revelam injustiças, violência, crimes ambientais, corrupção, tortura e miséria. Histórias que só conhecemos porque saíram nos jornais.
Fernando Molica é jornalista e escritor | E-mail: fernando.molica@odia.com.br
Como qualquer grupo profissional, acumulamos erros e acertos. Lidamos com vida em estado bruto, não é fácil resumi-la, transformá-la em notícia. Ao longo deste trabalho surgem embates, contradições e dúvidas. Quem acredita em pensamento único nos jornais nunca pisou numa redação; publicações que abrem mão do contraditório tendem a sucumbir. Sequer podemos esconder nossos pecados, tudo o que fazemos é público, estamos expostos à necessária vigilância, às vaias e aos aplausos.
A internet fez com que falar para milhares ou milhões de pessoas deixasse de ser privilégio dos jornalistas, o que é ótimo. O problema é que, lambuzados pelo exercício deste doce poder, muitos de seus detentores partiram para um acerto de contas. Consideram manipulação qualquer notícia que não seja uma defesa explícita da causa que defendem, chegam a fingir que não é depredação e vandalismo a depredação e o vandalismo que se revelam diante de seus olhos. Alguns atropelam a pluralidade de vozes que tanto dizem defender e tentam impedir o trabalho de quem poderá dar outra versão dos fatos.
No momento em que levamos tantas pancadas, vale frisar um episódio ocorrido na manhã de domingo, durante a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que reuniu, na PUC, 1.300 pessoas de 87 países. Diante de uma plateia lotada, a repórter Míriam Leitão admitiu seu medo ao fazer, com o fotógrafo Sebastião Salgado, a reportagem sobre os índios Awá publicada em ‘O Globo’. Medo dos madeireiros? Não: “Medo de não merecer aquela história, de não entender aquela história, medo de não saber contá-la.” “Com 40 anos de jornalismo — completou — é muito bom ter medo.” Foi ótimo ouvir seu depoimento sobre a tensão, a alegria e a insegurança diante do desafio de contar boas histórias, histórias que revelam injustiças, violência, crimes ambientais, corrupção, tortura e miséria. Histórias que só conhecemos porque saíram nos jornais.
Fernando Molica é jornalista e escritor | E-mail: fernando.molica@odia.com.br
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