sábado, 19 de outubro de 2013

Nelson Vasconcelos: Não procure saber!

Nelson Vasconcelos: Não procure saber!

A história de um jovem músico, de nobre linhagem, que gostava de fazer piadas homofóbicas

O DIA
Rio - Era uma vez um jovem músico, de nobre linhagem, que gostava de fazer piadas homofóbicas. O sujeito tocava então na banda de um dos ícones da Música Popular Brasileira. O Dono da Banda, diga-se, é famoso por sua peculiar verborragia, que às vezes abusa da paciência alheia. Tipo assim o Gilberto Gil. Ou não.
Um dia, cansado de ouvir seu músico espinafrar gays, lésbicas e simpatizantes, o Dono da Banda chamou o rapaz para uma conversa. E foi direto:
“Olhe, menino. Você se lembra que seu pai era muito amigo de Fulano?”, perguntou o patrão.
O pai do jovem músico, diga-se, também trabalhara na Banda do Dono. Era uma referência da era dourada do funk- samba-jazz brasileiro, anos 1970.
“Claro, claro. Lembro sim”, respondeu o garoto.
“Pois você sabe por que eles eram tão amigos?”
O sujeito negou. Não tinha ideia.
O mestre rebateu: “Pois procure saber, meu filho”. E reforçou, baianamente: “Procure saber!”
Reza a lenda que, depois disso, o jovem músico não mais fez piadas homofóbicas. Talvez tenha procurado saber sobre o passado do próprio pai, como sugerido pelo Dono da Banda. Vá saber...
Muitos, muitos músicos conhecem esta história. Lobão gosta de contá-la em público, mas já ouvi de outras fontes menos polêmicas, mais isentas.
E daí? Daí que é curioso que “Procure saber” batize um movimento que, coibindo pesquisas e registros históricos, pretende acabar com a legitimidade das biografias. Talvez porque essa turma de notáveis biografados entenda que, se alguém procurar saber a fundo sobre suas vidas e carreiras, muitas verdades inconvenientes podem vir à tona. Na visão deles, é melhor, portanto, esconder tudo — e na base da censura prévia, de tão triste lembrança para a história do Brasil.

Jornalista

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