Raio X das passagens
Mão de obra e diesel foram os itens que mais pesaram no reajuste da tarifa de ônibus
Rio - Estopim das manifestações de rua das principais cidades do país, o reajuste das tarifas de ônibus urbanos é resultado de complicadas fórmulas. O custo de mão de obra, que tem sido apontado pelos economistas como um dos culpados pelo avanço da inflação, é o item com o maior peso nas contas.
No Rio, o índice de reajuste dos rodoviários, calculado pelo IBGE, registrou aumento de 9,57% desde o último aumento das passagens, adotado em janeiro de 2012. Aplicado na fórmula prevista nos contratos de concessão das empresas de ônibus, ele tem o peso de 45% e representou 4,31% dos 10,50% de majoração que as tarifas teriam após o cálculo.
Para o passageiro, entretanto, o aumento, de R$ 2,75 para R$ 2,95, foi de 7,27%, por causa da desoneração federal de PIS/Cofins para as empresas de coletivos urbanos, de 3,65%. Houve ainda um acréscimo de R$ 0,029 para compensar a redução nas tarifas dos ônibus com ar.
Economista e professor de Finanças do Ibmec-Rio, Gilberto Braga ressalta que muitas categorias, entre elas os motoristas de ônibus, tiveram ganhos acima da inflação, que de janeiro de 2012 a maio de 2013 acumulou alta de 8,89% (IPCA, índice do IBGE que mede a inflação para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos). Os rodoviários tiveram aumento de 10%. Além dos itens usados na fórmula para o reajuste, o economista lembra que há a margem de remuneração das empresas de ônibus, que, em média no Brasil, é de 10% do valor das tarifas, segundo ele.
Outro item que entra na elaboração dos contratos é o do preço do diesel. O índice de custo do combustível por atacado, calculado pela FGV, tem peso de 21% na fórmula do reajuste das tarifas. Mas, como o aumento do produto foi de 22,58% no período, na conta final, o item representou reajuste de 4,74% nas passagens. Entram ainda nessa conta a elevação dos valores de pneus e carrocerias e outros custos, que somam 1,45% do reajuste.
Economista da PUC, Luiz Roberto Cunha lembra que os gastos com ônibus têm peso de 2,65% no orçamento das famílias brasileiras, com renda de um a 40 salários mínimos. “Há distorção nesse número por causa do vale-transporte”, disse.
Em São Paulo, aumento foi de 6,67%, mas tarifa custa R$ 3,20
Palco dos maiores protestos, São Paulo teve, em junho, o primeiro reajuste de tarifas após dois anos e meio. O aumento foi de 6,67% e o preço passou de R$ 3 para R$ 3,20. Ao contrário do Rio, a prefeitura da capital paulista dá subsídios para as empresas de ônibus. Se não fosse essa ajuda, as passagens dos paulistanos custariam R$ 4,13, conforme a prefeitura.
Os gastos para custear valores mais baixos, no entanto, foram de R$ 953 milhões, em 2012, e deve crescer R$ 408 milhões, neste ano. O subsídio divide opiniões. Professor da FGV de São Paulo, Samy Dana é favorável. “O brasileiro trabalha 156 dias no ano para pagar impostos e está diante de um processo onde a renda não acompanha o consumo. A passagem de ônibus foi a gota d’água”, afirmou, lembrando que o transporte público integra o pacote de bem-estar social e, por isso, defende a ideia de subsidiar.
O presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos, Aílton Brasiliense, é contrário. “Não acho que o transporte deva ter benefícios. Com o tempo, a tendência é de o desconto ser revertido em lucro para empresas”, ressaltou.
Em Cabo Frio, no litoral fluminense, a tarifa subsidiada custa R$ 0,50.
Em Cabo Frio, no litoral fluminense, a tarifa subsidiada custa R$ 0,50.
Reportagem: Cláudio de Souza e Amanda Reiter
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