domingo, 21 de julho de 2013

Moacyr Luz: Garçom de borboleta

Moacyr Luz: Garçom de borboleta

Alguns desses anjos da paciência mereciam estátuas de bronze, um Drummond sentado e ladeado por Jobins

O DIA
Rio - Voz de intimidade e copo vazio erguido na mão, o gaiato ao meu lado grita do balcão:
— Ô! Feijoada de Pobre, manda outro na pressão!
Guardei o riso, na resposta do enfezado:
— O cara só tem orelha!
Foi com esse apelido que Severino, garçom de um clássico bar tijucano, criou fama entre os pinguços do bairro, com direito a festa no 11 de agosto, data comemorativa da classe. Me antecipo na ansiedade de ser logo servido.
Um sujeito que veste terno branco, longe de ser bailarino; é atração no batizado quase sempre com uma gravata borboleta mesmo sem ter as mulheres do James Bond e, ainda escuta, freudiano, às tuas lamúrias na madrugada, merece uma data especial.
Alguns ganharam fama como o Chico, da Alaíde, hoje capitão do próprio navio. Jóquei por hobby, Chico tem a altura certa pra cruzar o salão com a bandeja lotada de caldeiretas sem tocar nas volumosas barrigas que travam o caminho. O mesmo percurso que alçou o craque Antônio Rodrigues a dono de mil Belmontes e outras biroscas de luxo.
No Lamas, o terceiro mandato também é inconstitucional. Saiu Vieira, mestre da simpatia, disputando a coroa, mesa a mesa, a dupla Pedro e Zé Melo. O restaurante, com quase 130 anos, acolhe os boêmios, noite adentro, todos inteligentes e dispostos, como sempre, em salvar a humanidade com generosas doses de uísque e fritas à francesa. O garçom precisa ser poliglota.
Madrugada-ícone marcada no relógio do Nova Capela, o rei do cabrito no breu da Lapa. Ali, na praça perto do banheiro, o delegado tinha nome: Cícero, do sertão cearense, o preferido dos músicos e atores dos arredores. Mancando de uma perna, batia os cem metros na velocidade de um jamaicano pra atender os laricas esfomeados. Cícero se aposentou assim como o Paiva, do Jobi, ou o Barriga, 30 anos de Paladino.
Alguns desses anjos da paciência mereciam estátuas de bronze, um Drummond sentado e ladeado por Jobins e Pixinguinhas nas biroscas cariocas.
Novos craques emergem feito nossas pérolas das pelejas. Na Palace, churrascaria tradicional de Copacabana, Índio é orgulho da casa. Inventa cortes, descobre fatias magras em carnes proibidas e guarda seu nome para sempre, um amigo íntimo.
Penso, no auge do meu exagero, que comemorar o Dia do Garçom seja tão emocionante quanto a data para as mães; afinal, quem nunca chorou no ombro desses heróis anônimos que empreste o lenço!


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