Rio -  Sete casas da vila de número 536 da Rua Carvalho Alvim, na Tijuca, Zona Norte do Rio, foram interditadas pela Defesa Civil em decorrência da chuva forte que atingiu a capital fluminense na noite desta terça-feira. Os imóveis foram inundados e invadidos por pedras, areia e lama. Muitos apresentam inclinações e rachaduras. Um deles ficou completamente destruído.
Moradores desalojados da vila apontam a construção de um prédio na Rua Barão de Mesquita - que já duraria quase uma década - como responsável pelo agravamento da situação de risco das casas nos últimos anos. A maioria deles passou a noite na casa de amigos, vizinhos e parentes. A Defesa Civil vai retornar ao local na manhã desta quarta-feira para avaliar a situação.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Moradora de uma das duas últimas casas da vila, a doméstica Efigênia Barbosa, de 52 anos, era a imagem do desespero. Abalada, ela teve que ser medicada devido a pressão alta. O imóvel em que vive com o marido, o faxineiro José Pereira da Cruz, 51; e o do filho dela, que fica ao lado, estão ameaçados pelo muro do prédio que está sendo construído na Rua Barão de Mesquita. O muro que separa a área de lazer do grande condomínio da vila foi construída sobre rochas, segundo os moradores. Eles afirmam que a água, a lama e as pedras que atingiram as casas são conseqüencias da obra.
"Estou bem, minha família está bem, mas estou triste. A gente consegue comprar uma casa com sacrifício. Aí vem um engenheiro e faz isso aí", disse Efigência, apontando o local por onde a enxurrada passou.
Mãe quase morre afogada
O auxiliar operacional Ricardo da Conceirção Pereira, de 40 anos, foi chamado às pressas para a casa da mãe, pouco abaixo do imóvel de Efigênia. A idosa de 70 anos, quase morreu afogada pela água que invadiu o imóvel e atingiu cerca de um metro de altura. A parede dos fundos ficou estufada pela pressão da água e ameaça desabar. Móveis, utensílios e eletrodomésticos ficaram espalhados dentro do ímóvel, invadida pela terra e pela lama que desceram da encosta, impedindo o acesso ao interior da casa.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
"Minha mãe é baixinha e quase se afogou. Ela reclama de dores na coluna e meu irmão, que estava com ela, está com a perna inchada. O prejuízo é muito grande. Mas, o mais importante é que a vida de todos foi preservada, Graças a Deus", agradeceu Ricardo, funcionário do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel. Ele também fez coro e disse que a situação na vila nunca foi tão crítica após a construção da área de lazer do prédio.
A casa do funcionário público Alex Pinheiro de Carvalho, de 38 anos, escapou de maiores danos, apesar do deslocamento do muro, devido a força da água que desceu morro abaixo. O imóvel do falecido irmão dele, porém, ficou completamente destruído. A enxurrada derrubou o muro e a água ficou represada no quintal.
Outro que viu a casa ameaçada foi o aposentado Orlando Pereira, de 57 anos. O imóvel dele apresenta grande inclinação frontal. O terreno rachou e há ameaça de desabamento. Recém-operado do coração, ele passou a noite na casa de um sobrinho.
"A construtora direcionou o escoamento de água da chuva aqui para a Rua Carvalho Alvim. Reclamamos e eles desviaram para a Rua Barão de Mesquita. Os moradores de lá reclamaram e eles mudaram novamente aqui para nossa vila", descreveu Orlando.
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Nenhum representante da construtora responsável pelo condomínio foi encontrado para falar sobre o assunto.Aainda de acordo com moradores da vila da Rua Carvalho Alvim, a construção do prédio teve início em 2004. Desde então, ela foi paralisada algumas vezes, como na enxurrada de 2009. Várias construtoras já estiveram à frente da obra.
Durante a madrugada, as consequências da chuva da noite de terça-feira ainda podiam ser vistas na Grande Tijuca. Na Avenida Maracanã, pista sentido Centro, no cruzamento com a Rua Pinto de Figueiredo, na altura do 1º Batalhão de Polícia do Exército, a força da água derrubou um trecho da mureta de proteção do Rio Maracanã. Parte do asfalto também cedeu. Um trecho de 30 metros está interditado ao trânsito.
Sirenes de alerta foram acionadas na região
A região da Grande Tijuca registrou elevado índice pluviométrico acumulado na noite desta terça-feira. As sirenes do Sistema de Alerta e Alarme da Prefeitura do Rio foram disparadas em seis comunidades pela primeira cez em 2013: Macacos, Borel, Salgueiro, Mangueira, Parque Candelária e Parque Vila Isabel. O Rio Maracanã transbordou. Houve alagamentos na Praça da Bandeira, Tijuca e Maracanã. O trânsito ficou caótico nessas regiões.
De acordo com o Alerta Rio, na estação São Cristóvão, choveu, das 19h15 às 22h, 36,5% da média mensal de chuva para o mês de janeiro. As equipes da Prefeitura registraram pontos de alagamento principalmente na região da Grande Tijuca, do Catete e de São Cristóvão.
A CET-Rio interditou os acessos à Praça da Bandeira, a partir das 20h30, por medida de precaução. Quando o nível d’água baixou no local, os acessos foram progressivamente liberados, a partir de 21h40. O órgão utilizou 350 agentes de tráfego, 30 reboques e 30 paineis informativos durante a operação em toda a cidade. Já a Guarda Municipal utilizou 497 operadores, 6 reboques e 39 viaturas durante o evento. As equipes operacionais continuam de prontidão.
Na Rua São Francisco Xavier, na Zona Norte, um córrego transbordou e alagou a rua | Foto: Leitora Alessandra Carvalho
Rio Macaranã transbordou e alagou o entorno | Foto: Leitora Alessandra Carvalho
A Bacia da Baía de Guanabara retornou para Estágio de Atenção desde às 21h45 desta terça-feira, devido ao deslocamento dos núcleos de chuva forte para o oceano, segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio. Neste momento, chove fraco em diversos pontos da cidade. A Bacia da Baía de Guanabara estava em Estágio de Alerta desde às 20h07.
O Estágio de Atenção é o segundo nível em uma escala de quatro e significa previsão de chuva moderada, ocasionalmente forte, nas próximas horas, segundo o Alerta Rio. A Bacia da Baía de Guanabara engloba as áreas do Centro, Zona Norte, Ilha do Governador e Subúrbios da Central e Leopoldina.