quinta-feira, 25 de julho de 2013

Família de Amarildo diz que não vai deixar favela

Família de Amarildo diz que não vai deixar favela

Decisão inviabiliza oferta feita por Sérgio Cabral de inclusão em programa de proteção

O DIA
Rio - Eles têm medo, mas não pretendem sair da favela da Rocinha sem saber o que aconteceu com o pai, o pedreiro Amarildo Dias da Silva, 47, desaparecido desde que foi levado para a sede da UPP local no dia 14. A vontade da família é contrária à do governador do estado, que nesta quarta-feira os recebeu no Palácio Guanabara e afirmou que eles seriam incluídos no Programa de Proteção à Testemunha, o que obrigatoriamente os afastaria da comunidade. 
Policiais estiveram na Rocinha para realizar perícia
Foto:  Estefan Radovicz / Agência O Dia
“Vamos enfrentar as ameaças, lutar até o fim e queremos o caso do meu pai resolvido”, disse ontem à noite o filho mais velho do pedreiro, 21 anos, que não quis se identificar. Ele, o irmão de 20 e a mãe de ambos, a dona de casa Elisabeth Gomes da Silva, 47, prestaram depoimento ao delegado
Orlando Zaccone, titular da 15ª DP (Gávea), na Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
Pela manhã, Zaccone esteve na Rocinha com a perícia. O delegado quer saber o que houve com as câmeras de seguranças que poderiam ter filmado Amarildo deixando a sede da UPP, como afirmou ter ocorrido o comandante da unidade, o major Edson Santos.
“Buscamos analisar a veracidade das alegações da PM. Fiquei surpreso, pois tinha a informação de que apenas uma das câmeras estava com problemas. Agora, disseram que as duas queimaram. São câmeras estratégicas para a investigação, pois estão posicionadas na frente da base”, disse o delegado.
Para Zaccone, causa estranheza o fato das demais 80 câmeras próximas à UPP, posicionadas a poucos metros de distância das que não estavam funcionando, não terem registrado o pedreiro em mais nenhum ponto da comunidade.
Cabral recebe familiares no Palácio
O governador Sérgio Cabral recebeu os parentes de Amarildo para uma conversa no Palácio Guanabara nesta quarta-feira. O encontro também teve a participação do secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, e do público geral do Estado, Nilson Bruno.
“Já são 13 dias de procura e já fomos até São Gonçalo. Tenho certeza que ele está morto”, disse Elizabeth da Silva, mulher de Amarildo, acrescentando que não crê mais que ele esteja vivo. “ Tenho medo que os policiais, quando a poeira baixar, façam maldade com a minha família”, acrescentou.
“Se for confirmada a responsabilidade da polícia no desaparecimento, caberá ação de indenização contra o Estado e já começamos a conversar sobre isso”, informou Nilson.
Cabral se reúne com familiares de pedreiro desaparecido
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
Delegado desmente policiais
Uma afirmação dos policiais militares da UPP da Rocinha sobre o pedreiro já pode ser contestada, segundo o delegado Zaccone. “Eles disseram que não conheciam o Amarildo, mas depois do que ouvimos hoje da família, essa possibilidade é praticamente nula”, garantiu. 
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado estadual Marcelo Freixo, o governo continua cometendo equívocos no caso. “Oferecer o Programa de Proteção à Testemunha a eles soa como ironia. Este programa tem fila de gente para entrar porque não funciona, não recebe ninguém há um mês”, contestou Freixo.
Um dos filhos de Amarildo teria sido detido com drogas antes do desaparecimento do pedreiro, o que poderia ter gerado uma rixa entre a família e os PMs. Os parentes disseram ontem na Alerj que a prisão foi forjada. Um dos policiais envolvidos no caso e afastado das ruas foi identificado como soldado Vital, o “Cara de Macaco”.




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