quinta-feira, 6 de novembro de 2014

DEYVERSON “Quero ser o goleador da Liga”

DEYVERSON “Quero ser o goleador da Liga”


O jogo deu na Sport TV no Brasil e fiquei com a impressão que tudo parou onde eu nasci... O telefone esteve sempre a tocar, a receber mensagens. Foi inacreditável!” Em miúdo, a minha paixão era a bola e tenho fotos a chutar num ‘carecão’, que é o nome que damos a um campo de terra. Era a melhor brincadeira que tinha, fazia-me feliz” “Hoje sou um jogador mais tranquilo e todo o grupo também confia mais em mim, por eu ter mais cabeça em campo” “Quarto lugar? Temos de continuar no mesmo caminho, com humildade, mas estamos de parabéns
Deyverson bisou frente ao Boavista, algo que fez pela primeira vez na carreira e já morde os calcanhares a Talisca, melhor marcador da I Liga, com sete golos em nove rondas. A um golo do compatriota, o avançado de 23 anos que saltou do quinto escalão brasileiro para o Benfica B em 2012 e, agora, brilha no Restelo, assume a O JOGO a ambição de ser o goleador 2014/15, com muito trabalho e humildade.
Ainda há dois anos era amador, agora concretiza os sonhos. Como foi assinar o primeiro bis da carreira?
— Senti-me muito honrado pelos dois golos, nunca tinha feito isso num jogo, nem mesmo no Mangaratibense. É bom para a minha carreira e para o Belenenses. Estamos em quarto lugar e assim também passam a olhar para nós com outros olhos.
Foi uma noite diferente?
— Sim, senti uma grande felicidade e demonstrações de carinho. O jogo deu na Sport TV no Brasil e fiquei com a impressão que tudo parou onde eu nasci... O telefone esteve sempre a tocar, a receber mensagens, tudo em festa por mim. Foi inacreditável!
Como explica este arranque e os sete golos?
— Há muita ajuda de todo o grupo e é fruto de muito trabalho da equipa, que cria esses lances. Independentemente de quem faça o golo, o trabalho é da equipa. Sinto-me muito honrado e vou continuar a trabalhar, com os pés no chão.
Tem algum número mínimo de golos idealizado para esta época?
— Vou deixando andar, o melhor é não pensar nisso porque depois acaba por não acontecer.
No entanto, já é o segundo melhor marcador da prova. Sente que pode ser o goleador da I Liga esta época?
— Eu acredito muito em mim e sinto que tenho condições de chegar lá, com muito trabalho, pois ninguém pega em ti e te deixa no berço... Acho que, a trabalhar desta forma, poderei ser o melhor marcador do campeonato, sempre com muita humildade e não desvalorizando os outros que estão lá em cima, pois também são grandes jogadores. Ser o goleador da I Liga dar-me-ia uma visibilidade muito boa, por isso vou continuar a trabalhar para lá poder chegar. É o que eu quero.
E porque razão não teve oportunidades para jogar mais, até à chegada de Lito na reta final da época passada?
— Acho que foi uma falha minha. No jogo com a Académica (4ª jornada) agredi o Aníbal [Capela] e fiquei marcado por isso. Foi uma situação de jogo, estava de cabeça quente e aconteceu. Eu era muito imaturo na altura, mas, felizmente, agora penso mais em crescer e aprender.
Essa atitude teve algo que ver com algum sentimento de frustração por não ter ficado no Benfica?
— Não, nada disso. Eu ainda era novo no futebol português, estava demasiado empolgado pela vontade de vencer e isso, às vezes, atrapalha. Foi uma jogada sem necessidade nenhuma, dei um pontapé que não devia. Na altura não tive tempo de pedir desculpa ao Aníbal, mas aproveito este momento para o fazer publicamente. Se pudesse voltar atrás, não o teria feito...

“Lito Vidigal fez de mim um jogador de verdade”

Na época passada, Deyverson viu um vermelho frente à Académica, na 4ª jornada, e só voltou a jogar à 26ª, já com Lito no comando. O técnico mudou-lhe a cabeça e a carreira, garante: “Comecei a mostrar o meu potencial, a mudar a forma de pensar e foi com Lito que aprendi a ser um jogador de verdade. Hoje sou mais tranquilo e todo o grupo também confia mais em mim, por eu ter mais cabeça dentro de campo”.
Nos 18 golos marcados por Deyverson em Portugal (Benfica B e Belenenses), apenas num deles a equipa não ganhou. “Talismã? A equipa é que me ajuda muito”, agradece.

227400_galeria_belenenses_v_boavista_primeira_liga_j9_2014_15.jpg“Se marcar ao Benfica não vou comemorar”

“Nunca tive contacto com Jorge Jesus. Saí com normalidade”

Deyverson deixou o Benfica no âmbito do negócio Miguel Rosa e revela que Jorge Jesus nunca lhe falou. Mas não guarda mágoas. O Benfica é uma porta entreaberta, pois há ainda uma cláusula de recompra.
Está, também, a tentar mostrar que teria merecido uma hipótese?
— O que o Benfica fez por mim foi bom, não esqueço nada. Mas agora só tenho a cabeça no Belenenses e é pelo Belenenses que vou dar tudo, para ajudar o clube a chegar aos patamares onde merece estar.
Mas ainda espera voltar ao Benfica ou dar o salto para um clube que lute pelo título de campeão?
— Neste momento não penso em voltar ao Benfica nem a outro clube.
Ou seja, na 12ª jornada, se lhe for permitido jogar na Luz, não se sentirá dividido? E se marcar um golo, vai festejá-lo?
— Se jogar vou dar tudo de mim, lutar ao máximo para fazer golo, mas não o vou comemorar, pelo respeito com que fui lá tratado [no Benfica].
E chegou a falar com Jorge Jesus sobre a saída? Teve pena de não estagiar com a equipa principal?
— Nunca tive contacto com Jorge Jesus. Saí e encarei isso com normalidade, pois o futebol tem dessas coisas. Não há que ficar triste. Os jogadores têm altos e baixos, por isso precisamos estar sempre focados e preparados para as coisas boas e as coisas más.

Ponta de lança já brilhou na baliza

Como é que você aparece em Portugal?
— Estava no Mangaratibense [quinto escalão do Brasil] quando um amigo do meu ex empresário me trouxe para prestar provas no Benfica.
As pernas tremeram, com um salto tão grande?
— É sempre algo importante, sair de um clube de uma divisão menor, deixar a família, os amigos... Claro que tremeram, mas fiquei muito feliz. Este sonho não era só meu, era também da minha esposa e do meu pai. Ele sempre sonhou ver os filhos como jogadores. Se não fosse ele, eu não estava aqui e agradeço-lhe muito.
E sempre foi avançado?
— Estive num campeonato amador como guarda-redes. Fui o menos batido e eleito o melhor da prova...
Se Lito precisar de si na baliza também é opção?
— Vou com o maior prazer para a baliza. Para ajudar jogo em qualquer posição.

Saudades de casa é o que mais dói

“Tenho imensas saudades de casa, é lá que está o meu chão, a minha mãe, o meu pai, os pais da minha esposa. As pessoas pensam que, por ser jogador, é fácil, que se está bem, mas o mais importante é a nossa família, o nosso porto seguro e quando falo dela fico sempre emocionado. Agradeço muito a Deus ter-me colocado no ventre da minha mãe, ter-me dado um pai espetacular. Falamos por Skype mas não é a mesma coisa, queria tocar-lhes.”

Camisola 66 foi fruto do acaso

“A questão é que, quando cheguei ao Benfica, só havia o 66 para escolher e eu aceitei ficar com ele. Depois, quando vim para o Belenenses, tinha outros números à escolha, mas como correu bem no Benfica B com esse número, decidi não mudar. Até porque lá no Brasil toda a minha família e os meus melhores amigos, o Daniel e o Mauro, já vestem o 66 e não deixavam que eu trocasse [risos].”

Coração para Neymar razão está com CR7

“Se fosse escolher pelo país, elegia Neymar como melhor do mundo. Mas o jogador que mais se destaca é Cristiano Ronaldo, ele é excelente, é diferenciado de todos e é ele que empurra o Real Madrid para a frente, fazendo golos decisivos. Quanto a Neymar, acredito que também será o melhor do mundo um dia. É mais novo e chegará ao patamar de Ronaldo e Messi."

Luisão deu uma ajuda na fase de adaptação

“Eu nunca tinha andado de avião sequer [risos] e, quando cheguei só pensava ‘meu Deus, o que foi que eu fiz’? Quando aterrei, fiquei sem palavras, com a cidade, com tudo. Cheguei sem nada, sem conhecer ninguém, mas depois conheci Luisão, Sidney, Kardec, que era o meu ídolo no Vasco da Gama, entre outros que estavam no Benfica e me acolheram muito bem.”
Textos PEDRO MIGUEL AZEVEDO
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