Francisco Alves Filho: A Aldeia Maracanã não deve ser demolida
Rio - Por muitos anos, o prédio de estilo art-nouveau localizado ao lado do Estádio do Maracanã pareceu invisível. Em estado de pré-ruína, não interessava aos milhares de cariocas que diariamente passam, de carro ou de ônibus, pela Avenida Radial Oeste. Poucos conheciam a importância da edificação: ali, em 1910, instalou-se a primeira sede do Serviço de Proteção ao Índio, presidida pelo marechal Cândido Rondon, pioneiro da integração nacional. Daquele lugar partiram expedições para desbravar a Amazônia. Anos depois, sob o mesmo teto, Darcy Ribeiro criou o Parque Nacional do Xingu.
Esse passado era desconhecido de muitos homens brancos, mas não de um grupo de índios que, em 2006, invadiu o terreno para lutar pela recuperação do prédio. Desde então, eles se mantiveram no terreno, em condições precárias. Os índios pedem o tombamento do imóvel e a criação de uma universidade indígena. Depois de sete anos sem resposta governamental, tiveram finalmente no sábado uma posição oficial: dezenas de policiais militares cercaram o prédio para expulsá-los e viabilizar a demolição. Naquele pedaço histórico do Rio, o governo estadual planeja instalar um estacionamento.
A resistência dos índios impediu a invasão policial. Apesar disso, o favorito nessa disputa é mesmo o governo. Derrota maior que a demolição do prédio, no entanto, seria tachar os índios da Aldeia Maracanã de irresponsáveis ou especuladores, quando não reivindicam nada para si. Merecem, na verdade, ser ouvidos com atenção. Tratar índios como malandros é algo do tempo de Cabral, o descobridor. Algo que não deveria ter lugar nos tempos do Cabral de hoje.
Jornalista de O DIA
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