Rio -  Quando penso em modernidade uma imagem salta do inconsciente: Charles Chaplin revoluteado a uma engrenagem industrial. A bem da verdade, só mesmo o título, ‘Tempos Modernos’, se mantém presente.
Na época do Carlitos, um daltônico se confundia no máximo com pequenas alterações: avançava um sinal vermelho apostando todas as fichas no verde permitido. Ou, sonho de consumo, um carro branco, preto, quem sabe, ousado, o bege clarinho.
Acontece que os modernos tempos exigem da sua percepção uma criatividade absurda, aleatória. O vizinho me aparece guiando um último modelo azul Carmel, totalmente diferente do cinza Oregon da esposa. Sem contar as opções de prata Dublin ou do preto Bristol sugerido pelo vendedor cafuzo.
Os entendidos chamam esse arco-íris de antropologia estética. Agora, o que mais me encafifa, me abisma de surtar, são as novidades pra diversos tipos de cabelos, os shampoos. Num instante, toda uma infância regida entre capilares pixaim, se perdeu.
Aquele corte ‘Príncipe Danilo’ pra cabelos lisos, caiu na realeza secundária. Você entra esbaforido no banho, água descendo pela moleira estilo mangueira na laje, olhos encharcados, enquanto as mãos procuram o shampoo no apêndice do box. É nessa hora que surge a modernidade.
A embalagem pergunta qual o PH na raiz dos seus fios brancos. Shampoo sem sal, antiresíduo, tonalizante com pouca amônia. Hidratado, progressivo, tudo escrito em letras miúdas.
Atônito (não confundir com ingrediente pra condicionador), o sujeito parte pra face mais simples da história: O tipo... Vamos lá: Ceramidas, Elastina, Arginina, Extrato de Vegetais e Manteiga de Frutas. Juro que não estou inventando!
Pra todos, uma indicação. Cabelos domados, cachos marcantes e liso perfeito. No suplemento dominical, descubro que acaba de ser lançado o Shampoo Disciplinante pra cabelos rebeldes.
No fim ainda passo o carnaval cantando que é dos carecas que elas gostam mais. Tempos modernos. Semana que vem vamos tentar esclarecer o boom do verão: “Sensação térmica”.