Rio -  Os recentes e frequentes acidentes têm gerado um clima de medo e insegurança nas ruas do Rio. Seja dentro de um ônibus ou nas calçadas. Nesta quarta-feira, um bebê de 3 meses morreu no colo da mãe, quando ambos foram atropelados por um carro desgovernado num cruzamento em Padre Miguel.
Cena do carrinho todo quebrado da criança de 3 meses que morreu atropelada na calçada chocou a todos | Foto: Leandro Candido
Cena do carrinho todo quebrado da criança de 3 meses que morreu atropelada na calçada chocou a todos | Foto: Leandro Candido
Pela manhã, um ônibus subiu uma calçada em Ipanema, arrastou uma banca de jornais e bateu em lanchonete. Nos primeiros 17 dias de abril houve sete acidentes de ônibus, que deixaram um saldo de nove mortos e nada menos do que 82 feridos.

A colisão desta quarta, segundo o motorista do ônibus, Elmo Silva Alves, foi provocada pelo avanço do sinal do Focus prata KUQ-4294. O coletivo tem 12 multas, a maioria por excesso de velocidade.
Motorista do ônibus diz que carro envolvido nesta quarta na batida em Ipanema ultrapassou o sinal vermelho | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Motorista do ônibus diz que carro envolvido nesta quarta na batida em Ipanema ultrapassou o sinal vermelho | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Passageira do ônibus, a professora universitária Cláudia Ferraz ficou muito assustada: “Achei que ia morrer. Mesmo não estando em alta velocidade, o motorista jogou o ônibus na calçada para não pegar outros carros. Fiquei 15 minutos chorando”.

No dia 2, briga entre o motorista e um passageiro fez o ônibus da linha 328 despencar do Viaduto Brigadeiro Trompowski, na Avenida Brasil. Oito pessoas morreram.

Um dia antes, um coletivo da Viação União da linha Central-Saracuruna tombou, também na Avenida Brasil. Dia 10, um ônibus da linha 685 (Méier-Irajá) invadiu um posto em Quintino e atingiu Tatiana Ferreira Lúcio, 28, os dois filhos dela e uma vizinha. Tatiana perdeu as duas pernas, teve morte cerebral e foi enterrada terça-feira.
A Rua Visconde de Pirajá ficou interditada no trecho do acidente durante cerca de três horas | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
A Rua Visconde de Pirajá ficou interditada no trecho do acidente durante cerca de três horas | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Terça-feira, um ônibus tombou na Rodovia Amaral Peixoto, em Tribobó, São Gonçalo, deixando 26 feridos. Domingo, mais dois casos: em Parada de Lucas, colisão entre ônibus e carro feriu 29 pessoas; e em Niterói, batida entre um ônibus da Viação Pendotiba e três carros deixou três feridos.

Vítima de acidente agora tem medo de andar de ônibus

Os acidentes têm deixado marcas — físicas e psicológicas — nos passageiros. A empregada doméstica Adail Gomes da Silva, de 40 anos, estava no ônibus da Viação União, linha Central-Saracuruna, que que tombou na Avenida Brasil no dia 1º de abril.

Adail, que machucou o rosto, agora está com medo de andar de ônibus. “Fiquei com o rosto roxo duas semanas, estava com vergonha de sair de casa, minha cara ficou horrível. Alguns passageiros comentaram que os pneus estavam carecas”, disse.

A tragédia do ônibus 328, que caiu de viaduto na Avenida Brasil, no dia 2 de abril, provocando oito mortes, acendeu a luz de alerta para o mau estado da frota, além do despreparo e da sobrecarga de trabalho dos motoristas.

O veículo, da Viação Paranapuan, estava com o licenciamento de vistoria do Detran vencido e acumulava 46 multas desde 2008. Doze penalidades foram relativas a avanço de sinal e 14 por excesso de velocidade.
Representantes de cooperativas e donos de vans tentam acordo com a prefeitura para voltar ao serviço | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Representantes de cooperativas e donos de vans tentam acordo com a prefeitura para voltar ao serviço | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Em 2012, a Ouvidoria da Secretaria Municipal de Transportes recebeu 28.294 reclamações sobre ônibus. As queixas mais comuns são de falta de educação de motoristas e de desrespeito a regras de trânsito.

Proibição de vans na Zona Sul é só o começo

Se depender da Prefeitura do Rio, o chamado transporte alternativo, em vans e Kombis, vai mudar de nome e de função. Os veículos só poderão circular em vias menores, abastecendo de passageiros os sistemas de ônibus, trens e metrô.

“Estamos em uma primeira experiência na Zona Sul, que será ampliada para toda a cidade. A licitação sai em maio e, a partir daí, vamos adequando o serviço”, avaliou o coordenador especial de Transporte Alternativo, delegado Cláudio Ferraz.
Na colisão, o ônibus deslocou uma banca de jornais | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Na colisão, o ônibus deslocou uma banca de jornais | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Na Rocinha, cerca de 200 motoristas de vans paralisaram o trabalho ontem cedo. Eles tinham reuniões com representantes da prefeitura e vereadores, mas não acreditavam que haverá solução para o problema criado pela proibição de trafegar pela Zona Sul.

“Na primeira licitação, em 2011, 19 veículos cobriam esse trajeto, que hoje a prefeitura quer que seja atendido por 200. Não há como. Faltam passageiros”, reclamou Flávio Neri, diretor de uma das três cooperativas de vans que rodavam entre Rocinha, Vidigal e bairros da Zona Sul e que agora estão limitadas às comunidades.

Com a proibição de circulação de vans na Zona Sul, pontos continuam superlotados e ônibus andam mais cheios, apesar do aumento da frota nas ruas.

Menina morre atropelada no colo da mãe

A menina Kawany Vitoria Agostinho de Souza, de 3 meses, morreu atropelada por um carro na esquina entre as ruas Figueiredo Camargo e General Gomes de Castro, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio, na tarde desta quarta-feira.

A mãe dela, Jéssica Agostinho, que estava com o bebê, teve ferimentos leves e foi levada para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo.

Segundo a polícia, o carro de Jorge Luiz da Silva, de 57 anos, invadiu a calçada e imprensou o carrinho de bebê onde estava Kawany contra um poste.

O motorista, que teria apresentado sinais de embriaguez, foi linchado e teve o carro incendiado. Ele foi levado para o Hospital Albert Schweitzer, onde foi constatado um traumatismo craniencefálico. O delegado da 34ª DP (Bangu), Raphael Stampowsky, pediu imagens de câmeras de segurança próximas ao local para investigar.

GPS passará a fiscalizar frota

A Secretaria Municipal de Transportes contará, a partir do segundo semestre, com sistema eletrônico de fiscalização remota dos ônibus, com aparelhos GPS instalados nos 9 mil veículos. O sistema, que funcionará em tempo real, 24 horas por dia, é para garantir maior controle nos serviços.

De acordo com o engenheiro de transportes Fernando Mac Dowell, as linhas de ônibus que circulam sem oferecer segurança aos passageiros deveriam sofrer uma intervenção: “Essa média alta de acidentes evidencia a falta de fiscalização”.