Rio -  Há 30 anos, Zeca Pagodinho já tomava sua gelada. No café da manhã, no almoço ou no jantar, ele sempre arrumava uma desculpa para abrir uma cerveja. Hoje, aos 54 anos, comemorando três décadas de carreira com o CD e o DVD ‘Vida Que Segue’, o pagodeiro garante que diminuiu bastante o ritmo. “Antigamente, levava as crianças para a escola e já tomava umazinha às 9h da manhã. Hoje não dá mais, tenho muita coisa para fazer. Se amarrar meu umbigo num balcão, não saio mais”, confessa ele, que segurava uma garrafinha de água mineral durante a entrevista. “Você já me viu bebendo água? Se eu estiver bem, bebo todos os dias. Mas estou com um problema na garganta. Já tomei até injeção”, diz, decepcionado.
Zeca Pagodinho recebe jornalistas | Foto: Anderson Borde / Ag. News
Zeca Pagodinho recebe jornalistas | Foto: Anderson Borde / Ag. News
Olhando para trás, Zeca acha graça dos momentos em que fugiu dos holofotes. “Eu só queria que minha arte fosse reconhecida. Não queria sair das esquinas do Irajá, onde eu estava. Foi a madrinha (Beth Carvalho) que me causou esse problema todo. No lançamento de um disco dela, no ‘Asa Branca’, na Lapa, que era a casa de shows dos bacanas, ela começou a tocar ‘Camarão Que Dorme a Onda Leva’, que estava fazendo sucesso. Aí, ela mandou me chamar e me empurraram no palco. Pensei: ‘Agora f*’.”, conta, aos risos. No final da apresentação, lembra Zeca, um balde de água fria quase o desanimou. “Fui parar no xadrez da 5ª DP (Centro) . Briguei com minha namorada e os policiais se meteram. Aí, eu briguei com eles e vieram mais policiais. Eles queriam aparecer”, dispara.
Apesar de não se arrepender de ter aproveitado o empurrãozinho de sua madrinha, Zeca, como se sabe, não se acostumou com a fama e com a vida na Barra da Tijuca, onde mora. “O simples é mais fácil de lidar. Por aqui, eu ando na rua, peço carona. Pergunto: ‘Aonde você vai? Tenho uma missão ali, me leva’”, conta ele, que não gostou de ser comparado a um super-herói quando colocou a mão na lama, literalmente, para ajudar as vítimas da chuva em Xerém, onde tem um sítio. “Não gosto disso. Eu não fui, eu sou daquele jeito, faço aquilo há anos. Não é só por ser Xerém, faria por qualquer um”, desabafa.
Vida que segue
Para comemorar seus 30 anos de batuque, Zeca resolveu cantar as músicas que o influenciaram como artista. ‘Foi um Rio Que Passou Em Minha Vida’, de Paulinho da Viola, ‘Trem das Onze’, de Adoniran Barbosa, e ‘Eu Agora Sou Feliz’, de Jamelão, são alguns dos clássicos que não ficaram de fora. A exceção foi a canção que dá nome ao projeto ‘Vida Que Segue’, de Serginho Meriti, que Zeca canta com as crianças do Instituto Zeca Pagodinho, criado em 1999 com o objetivo de levar música e cultura para a comunidade de Xerém. “A música não está no contexto, não tem nada a ver com o projeto, mas não dava para perder. Resolvi cantar com as crianças e convidei a Xuxa. Ela disse: ‘Mas eu não canto’. Falei pra ela: ‘Então vamos nós dois porque eu também não canto. O negócio é a alegria que vamos cantar”, explica.
Animado com o lançamento, Zeca só não permite que suas músicas sejam tocadas em sua casa. “Não toca porque eu não deixo. Só quando eu viajo. Toca Luiz Gonzaga, Alcione, Martinho da Vila.... Imagina você chegar em casa, tirar a bota e sua mulher lá, ouvindo ‘Iaiá, ô Iaiá, minha preta não sabe o que eu sei...’ Peraí, dá um tempo”, gargalha.