terça-feira, 28 de maio de 2013

Polícia faz plano para consolidar a paz no Alemão

Polícia faz plano para consolidar a paz no Alemão

Após tiros atrasarem corrida, moradores e lojistas reclamam que são obrigados a aumentar produtos para repassar ‘ágio’ a bandidos

ALESSANDRO LO-BIANCO E MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - A Polícia do Rio prepara uma estratégia para garantir a paz no Complexo do Alemão. O plano foi discutido ontem em reunião entre diversos setores da Segurança.
No domingo, bandidos fizeram disparos na hora da corrida Desafio da Paz, com a presença do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame — em uma ousada tentativa de intimidação.
Desta vez, ao contrário de tempos pré-UPP, a polícia conta com um forte aliado: os próprios moradores do complexo e bairros vizinhos, que pedem a permanência da PM e denunciam as ações dos bandidos. 
Um dia após tiros, PM reforçou segurança na região
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
A Secretaria de Segurança não entrou em detalhes sobre a estratégia, mas já providenciou reforço de 30% no policiamento desde domingo. O efetivo será aumentado em até dois meses. Ontem, policiais revistavam carros e pedestres nas entradas do complexo.
A Polícia Civil identificou os bandidos que atiraram na hora da corrida. Os nomes estão sob sigilo.
Comerciantes denunciam que criminosos os obrigam a cobrar ‘ágio’ sobre o preço dos produtos e repassar a diferença à quadrilha, enfraquecida com a queda na venda de drogas.
Em Olaria, lojas de uma rua foram assaltadas no sábado, em represália porque os comerciantes não seguiram a ordem de fechar as portas.
Moradores, que temem se identificar, dizem que reconhecem alguns bandidos que fugiram em 2010 com a ocupação da polícia e agora tentam reimplantar o tráfico na região. “Reapareceram mais velhos. Foi um choque. Não querem papo com a população. Disseram que nós que os entregamos à polícia, e que vamos nos ferrar por apoiar a entrada das UPP”, disse um homem. 
Moradores e comerciantes reclamam que precisam aumentar produtos
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
Uma funcionária da estação do teleférico contou que deixou de frequentar o comércio do Campo da Ordem, de onde foram feitos disparos no dia da corrida, porque nas últimas semanas o ponto passou a ser usado como esconderijo de bandidos.
“Há alguns estabelecimentos que passaram a funcionar apenas dois dias na semana por imposição do tráfico. Fico com pena dos donos, que são batalhadores e não sabem como lidar com a situação”, denunciou uma moradora.

Comerciantes denunciam arrastão em lojas sábado
No entorno do Alemão, comerciantes contaram com detalhes como foi proposta a ação do tráfico, que determinou o fechamento de lojas semana passada, e as consequências para quem não respeitou.
“Um rapaz parou de moto e disse que era do Comando Vermelho. Falou que voltaram para o Alemão e que tinha uma parceria para fazer. Se a gente respeitasse, ninguém iria nos assaltar. Mas deveríamos fechar as portas quando eles mandassem. Fizemos isso na quinta-feira, mas o movimento caiu muito porque os clientes estão com medo”, contou um comerciante.
Em Olaria, alguns comerciantes não atenderam à determinação. O resultado foi um arrastão na Praça Bel Monte, na Rua Delfin Carlos. Bandidos chegaram a fechar a via. “Estão roubando carros também. Moradores de primeiro andar de prédios não ficam mais com janelas abertas. À noite, as pessoas evitam sair com medo de novos ataques”, disse uma moradora.
Apavorados, outros comerciantes não quiseram comentar o assunto, mesmo com a presença ostensiva da polícia, que reforçou a segurança na região.
Identificados bandidos que atiraram
A Polícia Civil identificou os bandidos que dispararam os tiros antes da corrida domingo, mas não divulgou a identidades dos criminosos para não atrapalhar as investigações. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, de janeiro até agora, policiais da 22ª DP (Penha) prenderam 12 traficantes que agiam no Complexo da Penha. 
Com policiamento reforçado, moradores retomam à rotina
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
“Não vamos nos iludir que em dois anos e meio (tempo que a região está pacificada) vamos resolver esse problema. Esse é um trabalho permanente, é um processo em que a gente tem que ter perseverança. Só se ganha essa luta com coragem, perseverança e fé. E nós temos”, disse o governador Sérgio Cabral. 
Há uma semana o comando da UPP do Alemão foi mudado. Assumiu o posto o major Marcio Varela, que ocupou o lugar deixado pelo capitão Joel Costa Filho.
Policiais estão apreensivos
As ações do tráfico na região têm deixado até os policiais das UPPs apreensivos. “O problema é à noite, quando o efetivo é reduzido. Há três semanas, todas as noites há tiros. Às segundas e sextas-feiras são os dias com disparos mais intensos, após as 23h”, contou um PM.
Os frequentes ataques no Alemão e na Penha já mataram dois policiais, outros foram feridos. Em 22 de julho do ano passado, a soldado Fabiana Aparecida de Souza, foi morta após ataque à UPP Nova Brasília.
No mesmo dia, PMs também foram atacados na Pedra do Sapo. Um mês depois, o soldado Vinícius Barbosa Ferreira foi baleado encurralado por traficantes.




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