sábado, 12 de outubro de 2013

Hamilton Werneck: A defesa da vida e a salvação das crianças

Simone Ronzani: As crianças e os dragões

Diante de 80 crianças, entre 5 e 12 anos, disparei: “Quem aqui gosta de notícia? Alguém lê jornal ou acompanha o noticiário pela TV ou pelo rádio?”

O DIA
Rio - Diante de 80 crianças, entre 5 e 12 anos, todos alunos do primeiro segmento do Ensino Fundamental, disparei: “Quem aqui gosta de notícia? Alguém lê jornal ou acompanha o noticiário pela TV ou pelo rádio?”
Em meio a um grupo praticamente inerte, ainda bastante tímido, poucas mãozinhas se levantaram. Do fundo da sala, um menino, no auge dos seus 9, 10 anos, rebateu: “Notícia é muito chato de ver!!!”
Depois dele, começaram alguns outros desabafos: “Só vejo quando tem alguma tarefa...”; “Quando chega a hora do jornal, vou brincar...”; “Eu não...Pra quê?”; “Eu só vejo a parte do futebol!”. Ciente de estar diante de legítimos nativos digitais, geração superconectada, exposta e sem precedentes do mundo offline, continuei: “Então, senhores, vou apresentá-los à história da boate Kiss, da tragédia de Santa Maria.”
Num relance, como que emendando um diálogo descontraído, entre amigos e sobre um assunto bastante familiar, meninos e meninas puseram-se a falar: “Minha irmã chorou, e eu vi. Eu lembro disso!”; “Vi as fotos na capa do jornal do meu pai. Só não sei o que aconteceu direito...”; “Eu ouvi a minha mãe conversando com a vizinha sobre isso!”; “Ah... tinha um vídeo na internet!”
A passagem acima é real. Aconteceu no primeiro semestre, quando iniciei projeto-piloto de Conteúdo Transmídia na Escola Nossa, em Niterói. Eles não sabiam, mas já tinham uma interação natural com as notícias. Por ignorarem, se armaram, como se estivessem diante de bravos dragões. Depois de assistirem à recontação, o grupo acalmou. Provoquei: “A partir de agora, vocês vão prestar atenção nas Normas de Segurança? Afinal, o que houve na boate Kiss?”
Animados em poder falar sobre as questões incitadas, aderiram ao debate. Crianças são essencialmente curiosas, valentes e já sabem que os dragões existem. Gilbert Chesterton, escritor inglês que nem sonhava com a atual Era Midiática, já dizia: “Os contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Contos de fada dizem às crianças que dragões podem ser mortos”.

Jornalista, pós-graduada em Gestão do Entretenimento pela ESPM Rio, mãe do Henrique e criadora do Recontando

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