Rio -  Cinco atendimentos equivocados em cinco dias custaram a vida da estudante Andressa Nunes de Oliveira, 16 anos, que morreu quarta-feira de insuficiência cardiorrespiratória. Ela peregrinou por quatro unidades públicas de saúde — em duas delas esteve duas vezes — desde o sábado e recebeu alta de todas.

Casada e com uma filha que completou 11 meses no dia da morte, a jovem poderia ter tido uma história diferente, não fosse o descaso e a falta de atendimento adequado.

Nem os graves sintomas que apresentava desde o primeiro dia em que pediu socorro foram capazes de alertar médicos sobre o estado de saúde da moradora de Jardim América, Zona Norte. Em alguns postos, ela chegou a ouvir que a pressão alta — que chegou a 16 por 11 — era estresse, devido à festa de aniversário da filha.
A cabeleireira Valéria Nunes mostra fotos da família construída pela filha Andressa, que deixou viúvo e filha | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
A cabeleireira Valéria Nunes mostra fotos da família construída pela filha Andressa, que deixou viúvo e filha | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
No sábado, Andressa procurou socorro no Hospital Estadual Getúlio Vargas. Lá, foi encaminhada para a UPA da Penha, pois disseram que seu quadro não era emergencial e estava fora de risco. Ficou mais de cinco horas no local, que, segundo a família, estava lotado, e desistiu.

“Ela estava inchada, no sábado, com dores no peito e pressão alta. E falaram que o quadro era fora de risco. Se eu tivesse com ela, não a deixaria ir embora. Isso foi negligência”, edenunciou a mãe da jovem, Valéria Nunes, 40.

Na segunda, ela foi ao Centro Municipal de Saúde Dr. Nagib Jorge Farah, no Jardim América. A pressão dela estava 16 por 11 e a aconselharam a procurar uma Emergência.

Na terça, foi ao PAM de Irajá, onde fez exames de urina e sangue. Até que às 3h de quarta, sentindo falta de ar, voltou à UPA da Penha, onde lhe medicaram anti-hipertensivo.

Ao chegar em casa, teve convulsão e foi levada pelos sogros ao PAM de Irajá. Com parada cardíaca, foi submetida a manobras de ressuscitação. Porém, após 1h40, sofreu outra parada e faleceu.

Sofrimento relembrado

Andressa morava com o marido Pedro Henrique Teixeira, 23, e a filha Júlia, de 11 meses. A mãe da jovem lamenta não ter estado lado a lado com Andressa nas últimas horas da vítima.

“Há quatro anos, minha outra filha, Carla Beatriz, hoje com 18, teve traumatismo craniano com perda de massa encefálica. Ficou largada no Getúlio Vargas, e eu movi céu e terra para que ela fosse atendida. Acompanhei desde o início o caso. Hoje, todos me conhecem lá”, contou Valéria.

Ela, porém, ressalta que o atendimento tem de ser igual a todos: “Se eu fosse lá com a Andressa, a atenderiam melhor. Mas não deveria ser assim”, disse ela, que procura forças para superar a perda da filha: “Tenho mais dois filhos e a minha netinha”.