Rio -  A vida de Jesus será contada mais uma vez pelas ruas da Rocinha, favela da Zona Sul que serve de cenário e inspiração para a Via Sacra, encenação teatral ao ar livre que completa 21 edições nesta Sexta-feira da Paixão, com início previsto para as 20h no Largo do Boiadeiro, na parte baixa da comunidade. De tema religioso, a peça sempre inclui temas atuais, e este ano vai levantar questões sobre a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em favelas do Rio.
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Ator que interpreta Jesus: Personagens contracenam no meio do público | Foto: Divulgação
Com duração de cerca de três horas, o público se mistura aos personagens, cujos atores são em sua maioria jovens da comunidade interessados em teatro, no trajeto de 2,7 quilômetros que sobe até a Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na Estrada da Gávea. O Teatro itinerante traça paralelos de passagens da Bíblia com fatos políticos-sociais. É possível ver pessoas com lágrimas no rosto quando Maria sofre ao ver Jesus na cruz, até mesmo dançando quando toca funk ou samba, ou se revoltando e xingando Judas.

Ao todo, serão 22 cenas, que cobrem do batismo de Jesus até a sua ressurreição. Mas apesar do tema religioso, a encenação tem abordagem reflexiva sobre a cultura e a vida nos dias de hoje. Este ano a peça tem como tema a Guerra de Canudos, e faz umacomparação entre a chegada da República a Canudos e o novo momento vivido pelas favelas pacificadas.
'Guerra não tem vencedores'
O diretor da peça, Aurélio Mesquita, disse que a proposta é alertar o que aconteceu em Canudos, na Bahia, que de um lado estavam pessoas que fugiam do flagelo e da exclusão econômica e social, e do outro o Exército, cujos soldados acabaram constituindo, junto com outros moradores do Centro do Rio que não tinham ounde morar na reforma do então prefeito Pereira Passos, o que mais tarde se chamou de "Favela".
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Multidão se aglomera para assistir encenação que percorre 2,7 quilômetros | Foto: Divulgação
"Na nossa abordagem, a guerra não tem vencedores, ambas as partes que participam de guerras saem perdendo. Não elegemos nenhuma questão específica para bandeirola, mas o nome favela está intrinsecamente ligado a canudos, e em especial, a grande maioria dos moradores da Rocinha têm a árvore genealógica ligada aos sertanejos e es escravos", analisa o diretor.
Aurélio diz que sempre teve bastante espectadores participando da festa, mas que sem a ostentação do armamento do tráfico o número de pessoas de fora da Rocinha pode ser maior.
"Homens e mulheres armados aqui (Rocinha), sempre houve". Sentencia. "É possível que alguém se sinta mais confortável por conta da UPP", finaliza.
Além de Aurélio, o espetáculo tem texto de José Maria Rodrigues, produção da TV Tagarela e realização da Companhia Teatral Roça Caçacultura. O evento conta com o patrocínio da Light e Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, através da Lei de Incentivo à Cultura.