Provar álcool antes dos 12 anos leva a abuso da bebida na adolescência
Pais omissos são culpados
Rio - Só um golinho para provar. Pedido recorrente dos filhos e concessão inconsequente dos pais, o hábito de oferecer bebida a menores pode gerar danos irreversíveis. Experimentar álcool antes dos 12 anos aumenta em 60% o risco de abuso na adolescência. E o pior: o uso excessivo da substância está ligado à falta de punição pelos responsáveis.
Todos os meus amigos bebiam e eu não via problema. Um dia, aos 14 anos, resolvi provar e gostei, mas, pouco tempo depois, só ia a lugares onde houvesse álcoolD., 19 anos, estudante
O alerta faz parte de pesquisa do Centro Brasileiro de Informações Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 51 mil alunos, de idades entre 10 e 18 anos. O abuso de álcool, chamado de ‘binge’, foi analisado apenas entre adolescentes de 12 e 18 anos, cerca de 17 mil pessoas.
“Os dados são assustadores. Não faz sentido uma criança beber e 11% dos adolescentes começaram a usar álcool na infância”, disse Zila Sanchez, professora da Unifesp e responsável pelo levantamento.De acordo com a pesquisa, feita em 2010 e divulgada este ano, 35% dos adolescentes praticaram o ‘binge’ pelo menos uma vez na vida, e 32% exageraram em 2009. Cerca de 20% beberam em excesso um mês antes de responder ao questionário. Desses, 5% abusaram até cinco vezes no mês. Zila alerta que, entre os estudantes com pais permissivos, o consumo de álcool é maior.
Para ela, é dever dos responsáveis retardar o primeiro gole. A especialista afirma que não há limite tolerável de álcool para menores de 18 anos. “São adolescentes que não serão punidos se beberem ou que veem os pais bebendo muito. Para adolescentes, a regra é a abstinência”, declara.
Chefe da Psiquiatria Infanto-Juvenil da Santa Casa da Misericórdia, Fábio Barbirato afirma que jovens com depressão, ansiedade e timidez podem encontrar no álcool uma espécie de ‘automedicação’ e solução imediata dos problemas. Segundo Barbirato, o uso precoce do álcool favorece a dependência porque, na infância e adolescência, ocorre formação intensa do sistema nervoso central. “Tudo o que a pessoa aprende nessa fase é retido, inclusive as coisas ruins. É como se o cérebro ficasse condicionado”, explica.
Sobre o tratamento do alcoolismo, ele disse que o empenho dos pais é fundamental. “Achar que o abuso de álcool vai passar com o tempo é medíocre. Pais permissivos atrapalham”, aponta.
Para os estudantes, bar e boates (25%) e casa de amigos (21%) são os locais preferidos para beber. Quase 10% afirmaram que consomem álcool na casa de parentes. E 8%, na própria residência. Em relação aos companheiros de copo, amigos correspondem a 33% e parentes, a quase 30%. As bebidas mais consumidas são cerveja (28%), ice (29%), e vodca (21%).
Clínica do Hospital Balbino, na Tijuca, Liliane Guimarães, explica que o abuso entre adolescente pode lesionar o estômago, causar hipoglicemia e, em longo prazo, cirrose. “Em apenas uma noite, já atendi cinco adolescentes em coma alcoólico, muitas vezes sem repressão dos pais”, conta.
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