sábado, 31 de agosto de 2013

Hamilton Werneck: Sobre a didática do senhor Chiquinho

Hamilton Werneck: Sobre a didática do senhor Chiquinho

O Sr. Chiquinho foi um professor exemplar e um avaliador excepcional

O DIA
Rio - O aprendizado foi com o Sr. Chiquinho do Posto de Saúde. Para lá fui mandado pelo meu pai para aprender a aplicar injeção. Imagino, hoje, se uma criança de dez anos quisesse aprender a aplicar injeções.
O Sr. Chiquinho foi um professor exemplar e um avaliador excepcional. Começou revendo o que eu sabia (conhecimento prévio), depois passou a me explicar como segurar a seringa. Iniciei o treinamento com o Sr. Chiquinho segurando um travesseiro que recebia as agulhadas. Ele corrigia a postura do corpo, orientava sobre a força a ser aplicada, informava sobre a necessidade de puxar o êmbolo da seringa para ver se havia sangue, o que impediria, de imediato, a aplicação por se tratar de local de algum vaso sanguíneo. Assim, aos poucos, foram sendo desenvolvidas habilidades inerentes a esta tarefa.
Quando o chefe do posto daquela vila de interior percebeu que tudo estava aprendido, ele organizou a prova final para liberar o aluno com uma frase final e decisiva: “Aprendeu a aplicar injeção.”
Cheguei ao posto no dia em que faria a prova anunciada na véspera. Para espanto meu, o Sr. Chiquinho tirou o paletó, levantou a manga da camisa e me disse: “Eu preciso tomar uma injeção, e você vai aplicá-la.”
Preparei a seringa, fiz a desinfecção, quebrei a ampola depois de cotá-la com um instrumento próprio e apliquei a injeção naquele senhor que me ensinou com toda a paciência.
Eis o resultado do teste: “Você sabe aplicar injeção, diga isto para seu pai.” Não precisou de nota, emitiu um parecer!
Em se tratando de ensino e aprendizagem, planejamento e avaliação, o Sr. Chiquinho foi perfeito. Ofereceu o braço na prova final. Até hoje tenho certeza de uma coisa: é deste tipo de professor que precisamos!

Pedagogo e escritor

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