Rio -  Desde cedo, a cidadã iguaçuana Márcia Corrêa Passos (o diploma está na parede) comprovou na rua a tese cantada por Dorival Caymmi: todo mundo gosta de acarajé. Foi no asfalto que montou a banca de quitutes onde a história começou. E, antes de prosseguir, é bom lembrar, com todo respeito à homenagem da Prefeitura de Nova Iguaçu, que é baiana legítima a cozinheira que, como ela gosta de dizer, “faz uma festa a cada dia” no Jeitão da Baiana.
Do tabuleiro montado na Praça da Liberdade, Márcia acabou abrindo, há 12 anos, seu elogiado restaurante | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Do tabuleiro montado na Praça da Liberdade, Márcia acabou abrindo, há 12 anos, seu elogiado restaurante | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
“O acarajé é refeição perfeita, tem tudo o que o ser humano precisa. É ele que sustenta minha vida até hoje. Às vezes, sinto até saudades da rua”, diz Márcia, no salão enfeitado com panos de chita e leques de palha do restaurante.
A mesa da Bahia é completa, bem apresentada e temperada à perfeição. Mas está nos pequenos acarajés com camarões defumados, sequinhos, em proporção ideal entre massa e recheio, a gênese do sabor que leva à Baixada clientes de freguesias distantes, como a Zona Sul do Rio ou Niterói. São mais de três mil deles devorados a cada mês, ao preço de R$ 12 por seis unidades.
Nascida em Vitória da Conquista (BA), de onde veio ainda criança com o pai, Márcia chegou a cursar faculdade de Letras, mas um dia descobriu que sua praia era outra: “Acabei fazendo o que todas as mulheres da família fazem melhor: cozinhar”.
Graças aos orixás, é o que pensa quem prova itens do cardápio que traz porções para grupos ou individuais: filé de peixe com camarão (R$ 25), moqueca de camarão com arroz e farofa de camarão (R$ 31,90), bobó com arroz (R$ 18,50) e o trio com vatapá, caruru, peixe e arroz (R$ 18,90) fazem parte da lista de sabores regados a dendê, castanhas e outros produtos ‘importados’ da Bahia.
No almoço, o bufê traz comida caseira com tempero baiano ao preço imbatível de R$ 8,99, sem balança.
Vestida a cada dia com diferentes e elegantes modelitos ‘afro-baianos’, confeccionados pelo irmão, e levando diferentes atrações musicais ao restaurante, Márcia promove mesclas culturais, como as noites ciganas de segunda-feira: danças típicas ao som da banda Fúria Gitana e ciganos autênticos descobrindo o que é que a baiana tem. Quinta é dia de forró pé-de-serra, e a carne de sol com macaxeira dita o ritmo no salão.
Na Páscoa, a pedida é moqueca de bacalhau. Em setembro, o caruru beneficente segue a tradição do Cosme e Damião baiano, e ajuda creches da região. Em dezembro, o ano fecha com rodas de candomblé, capoeira e samba de roda. Sabor e santo fortes na Baixada. Saravá.
O Jeitão da Baiana fica na Rua Barão de Tinguá 679, Centro (3773-1622).