sábado, 13 de julho de 2013

Jaguar: O jornal do velho lobo

Jaguar: O jornal do velho lobo

A vantagem da desorganização é que num fundo de gaveta achamos coisas já esquecidas

O DIA
Rio - A vantagem da desorganização é que num fundo de gaveta achamos coisas já esquecidas. Foi o que me aconteceu com o projeto que Fausto Wolff fez para um jornal que não foi lançado nem nunca será. São oito laudas datilografadas, amareladas pelo tempo. Não têm data, mas presumo que devem ser da década de 90, já que se referem ao ‘Pasquim’ (que fechou em 91) como coisa do passado. Nada escapa, item por item. A começar pelo nome: é importante na medida em que emplaca.
O texto sugere uma dúzia, achei mais interessantes ‘Herodes’, ‘Estapafúrdio’, ‘Porém’ e ‘O Ganso Carioca’ (prefiro este). Formato padrão (‘Veja’, ‘Isto É’). “Proposta: o cidadão lê a bobagem, hipocrisia, roubo, fraude, etc, na grande imprensa e fica esperando o que dirá nossa revista. Público: além de se ressentir de uma revista, o Rio merece uma revista carioca, que vista a camisa da cidade, expresse um ponto de vista carioca e seja o tambor cultural do país. O leitor padrão tem 40 anos em média, nível universitário, boa base de informação e espírito crítico; enfim, o que resta da burguesia pensante deste país e que há anos vê frustrados os seus anseios de cobrança e questionamento.
Espaço: uma vez que as duas maiores revistas do país são paulistas e provincianas, vamos apresentar uma revista nacional, porém 100% carioca: bem-humorada, contundente, irônica e artística.” Meticuloso, o Velho Lobo fala de tiragem, preço, composição empresarial: “Devemos ter alguns amigos ricos, pois não?” Sugere um conselho editorial: “Ziraldo, Jaguar, Millôr e Fausto Wolff (n.a.: só metade poderia topar). Uma revista inteligente, mas com uma linguagem clara que possa ser lida por qualquer adolescente alfabetizado. Uma revista de oposição e crítica, sem que isso signifique linguagem vulgar ou pornográfica.
A ideia é fazer com que a pessoa ou instituição criticada não possa reclamar, pois foi esculhambada com provas, estilo e inteligência. Não é difícil fazer uma revista de oposição sem nenhum -ismo. Será semanal, mas só sairá depois que tivermos certeza (via publicidade) que poderemos aguentar pelo menos seis meses sem problemas.” Entre 90 e 120 páginas. Dicas de matérias: “Os heróis do Oeste americano eram um bando de paus d’água vagabundos” ou “Todos os namorados de Tennessee Williams”. Pede urgência: “Precisamos fazer a revista antes que morramos todos.” Da sua lista de 15 possíveis colaboradores, sete já morreram, inclusive ele. O projeto taí. Para realizá-lo, só falta um ricaço que queira dar uma melhorada na biografia.


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