Moacyr Luz: Na viela da memória
Se alguém observar nessa crônica sintomas de nostalgia, aceito o diagnóstico
— Bebo pra ficar ruim! Se fosse pra ficar bom, tomava remédio!
Sumiu o mandiopã, tantas vezes escaldado num óleo escuro de desconhecido colesterol. Da inocência, perdi o Ki-Suco, uma anilina benéfica à minha glicose. Não encontro mais ninguém amargoso com o óleo de fígado de bacalhau, duas colheradas pra dar ao teu hálito o apelido de “cais do porto”. Aliás, as câmeras de segurança, instrumento inventado por programas sensacionalistas, inibiram as famosas casquinhas no armazém, fingindo provar a procedência do peixe natalino.
Nesse túnel do tempo, um conduíte por onde dois cientistas moldavam a minha imaginação, fui encontrar a inofensiva coleção de bonecos do arroz Brejeiro. Todos com chapéu de aba curta menos o “marinheiro”, quebrado e com a perna de pau. Sinceramente, eram mais amigáveis que esses Chucks psicopatas.
Se alguém observar nessa crônica sintomas de nostalgia, aceito o diagnóstico. Por que perder laudas lamentando o fim do casco escuro, tanto das cervejas quanto de refrigerantes, Crush, a Mirinda ou o internacional Seven Up? O inconsciente acena que alguma coisa “tá” fora da ordem. No baú da felicidade, velhas portas da esperança. Folheio o meu amarelado caderno encapado, dos tempos de uniforme e merendeira, e encontro uma redação sobre o dia do soldado, 25 de agosto.
A caligrafia desconhece teclados ou mouses sem fio. A própria data perdeu a cor, feito o índio, o dia da criança, o arroz doce no corre-corre do intervalo.
O “cachaça” resmunga: — Cadê o ovo colorido?
E-mail: moacyrluz@ig.com.br
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