Contagem (Minas Gerais) -  A defesa de Bruno Fernandes realizou, nesta quarta-feira, mais uma manobra e conseguiu adiar o julgamento do goleiro. O ex-jogador do Flamengo constituiu novo advogado, Lúcio Adolfo da Silva, que pediu para que o acusado fosse julgado depois por "não conhecer o processo". A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues analisou e aceitou o pedido de desmembramento. 
O novo julgamento de Bruno será realizado em 21 de janeiro com Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e Dayanne do Carmo, ex-mulher do arqueiro. Além de Lúcio, Bruno é defendido por Tiago Lenoir, Francisco Simim e mais dois auxiliares. O goleiro já deixou o plenário.
O promotor Henry Wagner Vasconcelos pediu a palavra e listou, em oratória, todos os advogados de Bruno. Ele solicitou à magistrada que rejeitasse o direto ao goleiro de constituir mais um defensor e pediu "respeito à Justiça" para a defesa do ex-atleta. Em sua fala, ele pediu, ainda, avaliação para uma penalidade de multa. "A defesa, sob a capa da astúcia e da bravata, só manobra", finalizou o promotor.
Descoberta de celulares pode anular julgamento
A descoberta de cinco celulares de testemunhas do processo sobre a morte de Eliza Samudio nesta terça pode anular o julgamento do goleiro e outros dois réus. O grupo deveria estar incomunicável no hotel e vigiado pela Justiça desde segunda-feira. O alerta sobre os aparelhos aconteceu quando um oficial de justiça flagrou Elenílson Vitor da Silva falando ao celular. Ele será julgado em janeiro, mas seria ouvido em juízo como informante da defesa. 
Com fisionomia séria, Bruno e Dayanne acompanham sessão | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Com fisionomia séria, Bruno e Dayanne acompanham sessão nesta terça | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
A apreensão do aparelho alertou PMs e oficiais de justiça que passaram pente-fino nos pertences dos confinados. A polícia vai investigar. Se ficar comprovado que elas falaram sobre o processo através dos telefones, os cinco não poderão depor. Com isso, a defesa pode alegar que foi prejudicada porque a responsabilidade de mantê-los isolados era da Justiça, o que geraria a anulação. Só o encontro dos aparelhos não significa a quebra da regra. Nesta hipótese, as testemunhas depõem e o julgamento segue.
Bruno reage à acusação de ameaça a uma testemunha

“Não te conheço, parceiro”, reagiu Bruno ao ser acusado pelo preso Jaílson Alves de Oliveira de tê-lo ameaçado nesta terça-feira, no presídio. A acusação foi feita durante depoimento da testemunha, convocada pelo Ministério Público. “Oh, doutora, falo na cara dele. Você me ameaçou”, afirmou.

“Estava tomando banho de sol quando o Bruno falou: ‘O que é seu está guardado. Seus dias estão contados”, revelou. Ele depôs porque disse ter ouvido de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, na cela, a confissão de ter matado Eliza. Alega ainda que Bruno e Bola tinham um plano para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues.

Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet
Advogado queria confissão dos réus

Um dia antes de entrar na defesa do ex-goleiro Bruno Fernandes, Tiago Lenoir expressou em sua página no microblog Twitter, opinião sobre a participação do atleta no desaparecimento e morte de Eliza. A mensagem dizia: “O Bruno e Macarrão deveriam confessar o homicídio e negar a ocultação de cadáver e sequestro. Daí pega 6 anos e volta a jogar”.

Em outra mensagem, o advogado criticou defensores, chegando a apostar cerveja sobre o resultado.

Francisco Simim rebateu as supostas declarações do assistente Lenoir. “Ontem ele tinha uma opinião, hoje tem outra. O Bruno já sabe e o caso já foi administrado. A estratégia da defesa é a inexistência do crime”, afirmou. Lenoir negou as declarações.

Simim disse que as reviravoltas no início da sessão faziam parte de “estratégia para que Bruno fosse julgado sozinho”. Após uma hora atuando sozinho, ele disse que não sabia o que iria acontecer. “Fui pego de surpresa. Advogado é como jogador, depende de resultado”, disse. Dayanne foi embora de táxi após o desmembramento do julgamento.

Delegada confirma que descrição de primo do goleiro tem credibilidade

O depoimento da delegada Ana Maria Santos, que investigou o desaparecimento de Eliza na Delegacia de Homicídios de Contagem, desestabilizou emocionalmente os réus. Ao relembrar detalhes do depoimento de Jorge Luiz Rosa, na época do crime menor de idade, Bruno e Macarrão, protestaram discretamente do banco dos réus. Revoltado com as declarações de que teria amarrado e chutado a modelo, Macarrão chorou e disse ao advogado: “É mentira dela!”.

Bruno alternava expressões de raiva e indiferença. Ana Maria detalhou que Jorge se sentiu 'alterado emocionalmente' ao depor e pediu para segurar a mão dela. “Sem dúvida, o depoimento do menor, com riqueza de detalhes e com a emoção com que ele se expressou, aquilo nos atingiu, a mim e à minha escrivã. Passou muita credibilidade”, declarou.

Um olho no julgamento e outro na possibilidade de Bruno voltar a jogar. Este virou o trabalho do procurador do atleta, Victor Fernandes, que acompanha o júri em Minas. Desde de a prisão do atleta, ele vai visitá-lo com frequência. O contrato com o Flamengo termina em 31 de dezembro. O goleiro deixou de receber do clube R$ 4,4 milhões.
Ingrid, noiva de Bruno, faz sinal de positivo no segundo dia do julgamento | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Ingrid, noiva de Bruno, faz sinal de positivo no segundo dia do julgamento | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Os advogados Ércio Quaresma; Zanone Emanuel e Fernando Magalhães vão pagar cada um R$ 18.660 por ter deixado a defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, segunda-feira.