Na segunda reportagem especial sobre câncer de mama, apresentamos a história da publicitária Mirela Janotti. Ela lança no próximo dia 4 de dezembro o livro ‘Mulheres de Peito’, originado de documentário homônimo já exibido no canal GNT, com depoimento de 14 mulheres que tiveram essa doença. Mas Mirela já escreveu também ‘Força na Peruca’, obra que conta a sua própria experiência na batalha contra o câncer de mama, diagnosticado em 2006, quando ela tinha 39 anos.
“Eu estava em Natal, andando de buggy. O vento batia e eu dizia: ‘Mãe, parece que tem espíritos aqui arrancando meu cabelo’. Fui dar um mergulho no mar e tufos saíam na minha mão. Depois, na hora de tomar banho, enchi um balde com tanto fio que caía”, recorda Mirela, em tom bem-humorado, falando do período em que fazia radio e quimioterapia.
Mirela: novo livro traz histórias de mulheres que tiveram câncer | Foto: Divulgação
Mirela: novo livro traz histórias de mulheres que tiveram câncer | Foto: Divulgação
O pior momento é receber a notícia. “Chorei muito. E nos primeiros dias você não quer levantar da cama para encarar a realidade. Só tinha vontade de dormir”, lembra ela, que meses antes do diagnóstico viu seu casamento de 12 anos terminar, perdeu a avó e foi demitida de uma grande agência de publicidade onde trabalhava.
Mas chega. O lado triste dessa história termina aqui. “Percebi que, se só vivesse chorando e reclamando, eu viraria uma pessoa chata e afastaria os outros de mim. Minha opção foi o otimismo”.
A escolha foi certeira. Linda, loura, sem trabalho e carequinha da silva, Mirela foi viver. Numa noite, conheceu um cara e eles começaram a flertar. “Eu usava peruca e a primeira coisa que ele elogiou foi meu cabelo (risos).
Na saída, ofereci carona. No carro, ele começou a fazer carinho na minha nuca e perguntou: ‘Você usa um aplique?’. A Britney Spears tinha acabado de raspar a cabeça e ele ainda emendou: ‘Vai me dizer que você é uma dessas malucas que sai por aí raspando a cabeça?’. Respondi: ‘Raspei porque precisei. Faço quimioterapia porque tive câncer de mama’. Mas logo avisei que já tinha colocado peitos novos. Alguma coisa eu tinha que ter a meu favor”, brinca. A publicitária deu o telefone dela para o rapaz, imaginando que eles nunca mais se falariam. Marco ligou no dia seguinte.
E como foi a primeira noite juntos? “Meio no escuro, aos poucos, quando vi já estava acontecendo. A peruca caiu”, conta sem constrangimento. Afinal, vergonha por quê? Marco está com Mirela até hoje, são seis anos de união. “Brigamos como qualquer casal. Mas Marco sempre vai ter pontos a seu favor. Nunca imaginei que fosse arrumar um novo companheiro nessas condições, com um peito bom, é verdade, mas não perfeito”, ri.
A vida profissional também deslanchou. “Coloquei um lenço na cabeça, fui para uma entrevista de emprego e acabei contratada. Sempre fui uma paciente mimada. Minha mãe vende roupas e eu tinha três gavetas repletas de lenços. Eles sempre combinavam com a blusa que eu usava porque ela pedia retalhos com a mesma estampa nas confecções. Era fashion”, brinca.
“Dou palestras por todo o País e conheço muita gente que enfrenta esse problema. Essa troca é muito boa”, resume ela, que conta uma passagem hilária em meio ao drama: “Estava em tratamento e encontrei uma amiga que há muito tempo não via. Eu usava chapéu e ela soltou: ‘Nossa, como sua pele está linda. É botox? Rebati: ‘Não, é quimioterapia mesmo’. Caímos na gargalhada”.