Rio -  É preciso ter peito para fazer tatuagem. Quem já fez, sabe que doi. Mas uma mulher que enfrenta a experiência de retirar os seios depois de um câncer de mama e tem a chance de reconstruí-los numa cirurgia plástica quer mais é vê-los perfeitinhos de novo. Nessa busca, os tatuadores são grandes aliados. Isso mesmo! Alguns desses profissionais usam uma técnica de pigmentação para escurecer as aréolas, devolvendo um aspecto natural à região. É o que mostramos neste terceiro dia de reportagens especiais sobre a doença.
Rogélio Santiago, que há 34 anos trabalha como tatuador em Brasília, é um exemplo. “Comecei atendendo mulheres que queriam cobrir as mamas com desenhos. Até que um dia pensei: ‘Acho que é possível redesenhar a própria aréola’. Não parei mais de fazer esse tipo de trabalho”, conta ele, que já perdeu as contas de quantas clientes atendeu com essa finalidade.
A paciente antes do procedimento de pigmentação (à esq.), medição de uma aréola, e o resultado final, após realização da tatuagem (à dir.) | Foto: Reprodução Internet
A paciente antes do procedimento de pigmentação (à esq.), medição de uma aréola, e o resultado final, após realização da tatuagem (à dir.) | Foto: Reprodução Internet
Rogélio não é o único. No Rio, Flavinho Tattoo aderiu à técnica recentemente e já recebeu quatro clientes para reconstrução dos mamilos. Em São Paulo, Led's também é o amigo do peito das mulheres, caprichando na mistura de cores em busca do resultado ideal. O trabalho é minucioso e começa com uma medição para calcular o tamanho, a altura e a posição da aréola, prestando atenção, principalmente, na tonalidade mais natural possível.
“Se a cliente tirou só uma das mamas, nos baseamos na outra para definir os tons. Mas se ela tirou as duas, procuramos pigmentos que não deem um resultado final artificial”, explica Rogélio, que foi influenciado pelo pai, cirurgião geral, a dar início a essa atividade. “Via o trabalho dele, o tanto de pessoas que atendia, e me deu vontade de contribuir de alguma forma”, simplifica. O custo é de R$ 250 por mama.
“Mas se a paciente não tem condições de pagar, faço de graça”, avisa, sem titubear. “É surpreendente a resposta das mulheres, muitas choram”, conta ele, ciente do quanto contribui para a melhoria da autoestima delas. Já por aqui, no bairro de Ramos, Flavinho cobra o valor de R$ 350 pelas duas mamas. “Estou nesse mercado há 18 anos, mas é muito bom ver o resultado disso na vida das mulheres”, valoriza.
A região é bastante sensível e a maioria das clientes relata uma sensação de formigamento que incomoda um pouco. Nada insuportável. Dependendo da cooperação da paciente, o trabalho pode demorar de meia a três horas para ser finalizado. Em alguns casos, é necessário fazer retoques. “Muitas gostam tanto que se tornam clientes fieis e voltam para fazer outras tatuagens depois”, conta Rogélio.
A oncologista clínica Luci Ishii já se tornou uma parceira de Rogélio em Brasília e encaminha várias de suas pacientes para o seu estúdio: “Esse tipo de trabalho é maravilhoso porque a mulher finalmente se sente completa.
Reconstruir a mama é um passo, recuperar a cor dos mamilos já é outro passo. Depois da cirurgia, a região fica apagada, em tom branco. Com a tatuagem, a mulher volta a ver seu corpo de maneira mais natural e, automaticamente, a qualidade de vida dela muda. Até a imunidade melhora. Ela perde a vergonha de se relacionar com o parceiro, de tirar a roupa. Isso faz com que volte a se abrir para a vida”, pontua a médica.