Rio -  No bairro de São Bento, em Duque de Caxias, a 450 metros da movimentada Avenida Presidente Kennedy, fica o maior patrimônio histórico edificado da Baixada Fluminense: a sede da Fazenda São Bento do Iguassú. Essa fazenda tem uma longa história, iniciando-se nos anos 1600.
Em 1591, Jorge Ferreira (tendo lutado contra os franceses em 1565) doou aos beneditinos uma ilha no Rio Iguassú e mais trezentas braças pelo sertão adentro. A filha dele, a marquesa Ferreira, casada com Cristóvão Monteiro, também doou terras, com fazenda, uma roça e pomares, de sorte que os monges beneditinos foram grandes proprietários de terras na Baixada Fluminense.
Naquele local, os religiosos ergueram inicialmente uma capela dedicada a Nossa Senhora das Candeias. No Século XVIII, as terras passaram para as mãos da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, subordinada à Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Iguassú.
A casa grande da fazenda de Duque de Caxias, com sua varanda, foi construída em um modelo pioneiro na época | Foto: Divulgação
A casa grande da fazenda de Duque de Caxias, com sua varanda, foi construída em um modelo pioneiro na época | Foto: Divulgação
Os registros encontrados sobre a casa grande da fazenda dão conta de que foi o arquiteto frei Manoel do Rosário, que no período de 1660 a 1663 construiu o Engenho de Iguassú, fez de sobrado as casas de vivenda. Foi, no entanto, o frei Manuel do Espírito Santo que tomou a resolução de construir uma casa grande nova, em forma de mosteiro, com pátio, entre 1754 e 1757.
É bem provável que o tipo de casa, de alpendres, não seja anterior a 1750. Assim, a Fazenda Mosteiro de Iguassú teria sido o seu primeiro modelo. O varandão é o que há de mais atrativo na casa grande da fazenda. O seu ornato principal e quase único — além das colunas com seu beiral corrido e simples — é muito bem acabado.
A vida econômica da fazenda, inicialmente, é marcada pelo plantio da cana-de-açúcar, mas, a partir do Século XVIII, foram diversificadas suas atividades. Desde os primeiros tempos, a olaria de Iguassú forneceu tijolos, ladrilhos e telhas para as obras da própria fazenda e, principalmente, para a construção do mosteiro do Rio de Janeiro. Embarcações grandes e pequenas conduziram o produto da olaria até aos cais de São Bento.
O mosteiro ofereceu tijolos e telhas para a construção do grande quartel das tropas da cidade do Rio de Janeiro. Quanto à produção de farinha, são justas as palavras do abade, frei Fernando da Trindade, de que a fazenda de Iguassu tinha um engenho de farinha muito excelente e útil.
Essa utilidade foi comprovada na invasão francesa de 1711, quando a fazenda ofereceu todo o mantimento de carne, farinha e feijão para o sustento dos fugitivos da cidade do Rio de Janeiro e que vieram acampar nas terras de Iguassú.
Dias após a invasão, chegou, sob o comando do governador de Minas, Antonio de Albuquerque, uma tropa com 6.000 homens em armas. Todos ficaram alojados na fazenda e em terras adjacentes que seriam mais tarde a Vila de Iguassú, e terras da Fazenda do Brejo, hoje Belford Roxo.
Hoje, conhecida como Fazenda “velha” de São Bento, perdida numa área de intenso processo de urbanização, corre o risco de, em breve, desaparecer e perder sua edificação e, com ela, toda a memória daquela que foi um dos primeiros núcleos de colonização às margens do Iguassú.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tentou recuperá-la, mas faltou empenho da comunidade eclesiástica e política da cidade, que está entre as 15 maiores cidades do Brasil. A Fazenda São Bento pode ser um centro de referência histórica da Baixada.