Rio -  Estou convencida que o povo vota nas mesmas pessoas, basicamente, por duas razões: para poder reclamar delas depois ou pra se dar bem com os desmandos delas. Porque não é possível que não vejam a maneira como os eleitos “administram” ou deixam de administrar nossas cidades e nosso estado. Francamente, não é admissível que depois do descaso com os desalojados da Serra Fluminense, ano após ano, ou com o desperdício de dinheiro público e do abandono dos moradores do Morro do Bumba, aqueles de sempre voltem ao poder ou façam seus sucessores para, de novo, não fazerem nada, darem as mesmas entrevistas e contarem as mesmas mentiras. Com a mesma cara lavada de sempre. Com a mesma aparente tristeza e comoção de sempre. Fala sério! Ninguém vê televisão? Ouve rádio? Lê jornal? Entra na internet? Ninguém conversa com um vizinho, um amigo, um companheiro do ônibus, um motorista de táxi? Será que ninguém para pra pensar no absurdo que a gente está vivendo? Será que não dá para, no mínimo, estranhar o fato de que um estádio de futebol, em nenhum lugar do mundo, dura só cinco anos? Que algo não foi feito em sua construção? Que há um desprezo absurdo pelo dinheiro público? Custou tão caro e já está interditado? Será que a gente vai passar a vida engolindo esta xaropada sem culpados? Quem vai pagar a reconstrução do Engenhão? Eu? Você? Nós? De novo e sempre? Fazem licitação, projetos, contratos, estudam o terreno, gastam bilhões e tudo vira pó, do nada, para nada? Se isto fosse normal não tinha prédio, igreja, castelo ou ponte em nenhum país da Europa. Roma tinha acabado, Paris caído, Londres desaparecido. Aliás, nem precisa ir tão longe. Da minha janela vejo construções da Rocinha que devem ter mais de 20, 30 anos, não tiveram engenheiros projetistas, nem especialistas em cálculo e estão lá, firmes e fortes, de pé, sem cair. E novos prédios surgem ali, do nada, de um dia para o outro, não custam tão caro nem ameaçam cair. E porque é que dá certo nas grandes capitais do mundo, nas diferentes comunidades e não dá certo com as obras públicas? Não é, no mínimo, esquisito? Por que é que Os eleitos administram a cidade, as licitações, as obras de um jeito tão distraído que sempre se surpreendem? Ou será que alguém, normal, liga tão pouco pro seu próprio dinheiro que a cada cinco anos constrói uma casa nova ou um teto novo? Ou se muda pra casa de parentes enquanto a construtora que contratou divide com o dono a perplexidade da construção mal feita e a nova conta? E o cliente nem questiona o fato de ela ter erguido a casa de maneira tão mal feita? O que é público é da cidade ou do Estado, logo é seu. E o que é seu não pode ser tratado deste jeito. Acorda, Alice!