Rio -  'Escreve o que estou te falando!’. É o que mais faço quando penso na coluna. A vida se transmuda em laudas, cada amigo íntimo ganha contornos de um personagem definitivo enquanto os fatos te apertam feito o metrô das seis no embarque da Central.
A morte do cantor Emílio Santiago comove e questiona a partir de depoimentos post-mortem. Unânimes, mídia e opinião pública dão a sua voz como a mais bonita do Brasil. Tento lembrar da última vez que a ouvi na rádio uma de suas aveludadas interpretações e caduco.
Às vezes se morre duas vezes. Uma em vida, permanecendo vivo, se me entendem.
O jornal dobra na página do Bumba, em Niterói. Prédios, com dinheiro público, tombando ainda na construção, iguaizinhos às casas da tragédia. Medieval em pleno século 21, um gaiato, mestre da obra, se defende: “Quem sabe não fundamos a nossa Torre de Pisa fluminense?”.
A sensação de fechar a boca num regime implacável e, ainda assim, engordar 10 quilos é, emocionalmente, similar. Nada adianta.
Pra amenizar, futebol. Meu parceiro querido Aldir Blanc escreve sobre o grito repetido aos beques na pelada de subúrbio: “Volta!”. Dedico o verbo ao serelepe Rafinha, o semicraque rubro-negro.
No caderno Ciência, a descoberta revolucionária: um celular que, do elevador, alcança, sem aquele grave eco na voz, um sinal internacional! Por aqui, a minha operadora é temente a Deus. Sinal, só o da cruz. Ainda comunga e confessa: eu mando torpedos na madrugada sugerindo o Quiz da Sorte na Mão!
O mosquito da dengue está lá, desenhado pela milésima vez no suplemento de Saúde. A doença com traduções etimológicas derivando de primatas a escravos dengosos pica, epidêmico, um varal de cidades brasileiras. Cuidado com os pneus! Os magros também!
Frase clássica: “Só é cego quem não vê” faz chorar num plantão com spray de pimenta.
Busco otimismo à deriva na Baía de Guanabara.
Meu mestre Jaguar, aos 80 anos, o master desse espaço aos sábados, provou em incontáveis doses que existe, sim, fígado abençoado. Seguindo a genialidade, Zeca Pagodinho. O craque, régua e compasso, chinelo de dedo e camiseta sem marca, descobriu, com traços cariocas, uma esquina para se beber na engarrafada Barra.
O projeto de escrever amenidades na coluna pede anistia nesta semana de Petrópolis, pastores e tacapes resistentes.
Quase nepotista, sugiro um samba nesta segunda-feira pra receber no outono de folhas secas uma estação mais tranquila.
E-mail: moacyrluz@ig.com.br